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hikafigueiredo

"Os Inquilinos", de Sérgio Bianchi, 2009

Filme do dia (20/18) - "Os Inquilinos", de Sérgio Bianchi, 2009 - Valter (Marat Descartes) e Iara (Ana Carbatti) vivem com os filhos numa casa na periferia de São Paulo. Seu relativo sossego é abalado quando três rapazes suspeitos instalam-se na casa vizinha. O casal, assim, passa a monitorar a movimentação dos rapazes pela janela de sua própria casa, incertos quanto a que atitude tomar face aos excessos dos jovens.





O filme, cru e contundente como normalmente são os filmes do diretor, aborda um assunto bastante atual - a violência reinante na periferia e a progressiva expansão do crime organizado. Os personagens percebem o perigo que ronda, a violência que espreita, mas, como que emparedados, não sabem o que fazer com isso. Aliás, durante toda a obra, a violência e a opressão surgem em diferentes formas, e em diferentes intensidades - do caso de violência doméstica narrado por Iara, aos programas do Datena assistidos pela televisão, do patrão que pressiona o empregado quando este pede para ser registrado, à diretora do colégio que diz que as faltas não serão abonadas caso os alunos não apareçam por causa de toque de recolher estabelecido pelo crime organizado. O desfecho, bastante pessimista, dá a entender que não há solução e que aquela população periférica continuará a ser obrigada a conviver com a violência e opressão, como animais confinados, como gado puro e simples. É um filme que desperta certa angústia e um tanto grande de desgosto pela impotência que retrata, transtornando tanto a razão quanto o lado emocional do público. Outro ponto que vale ressaltar no filme é a questão do olhar - a obra dialoga com o cinema, porque tanto os personagens, como o público do cinema, são espectadores e, como tais, são mais receptores do que atores propriamente ditos, tudo se resumindo no olhar. O filme é bem redondo, muito bem feito, muito bom. Além de Marat Descartes - ótimo como o passivo Valter, que age no imaginário o que não age na realidade - e Ana Carbatti - igualmente ótima como a indignada Iara, com um olhar penetrante e uma expressão de transformar o espectador em estátua de sal - há ainda a participação de nomes como Caio Blat, Cássia Kiss, Umberto Magnani, Leona Cavalli, Zezeh Barbosa, dentre outros. A obra é interessante, tem uma temática importante e vale a pena ser vista.

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