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"Os Pássaros", de Alfred Hitchcock, 1963

hikafigueiredo

Filme do dia (27/2022) - "Os Pássaros", de Alfred Hitchcock, 1963 - A bela socialite Melanie Daniels (Tippi Hedren) conhece o advogado Mitch Brenner (Rod Taylor) em uma loja de pássaros e acaba se interessando por ele. No intuito de se aproximar de Mitch, ela viaja para a pequena cidade litorânea de Bodega Bay, onde ele passa os fins de semana, ocasião em que vivenciará uma inexplicável experiência.





A primeira obra de Hitchcock que eu me lembro de ter visto, lá pelos dez ou onze anos de idade, no finado programa Corujão, identifica-se muito mais com o terror do que propriamente com o suspense, gênero pelo qual o diretor ficou mundialmente conhecido. Nos dias de hoje, inclusive, a obra provavelmente seria classificada como um "eco-horror", subgênero do terror onde o mal provêm de eventos ou criaturas da natureza que se voltam contra os humanos, muitas das vezes como uma forma de se vingar por sua conduta. Neste filme, a pequena cidade de Bodega Bay passa a ser alvo de furiosos ataques de pássaros que, aparentemente, intentam destruir todo e qualquer humano que surgir em seu caminho. Não espere uma explicação racional para tais eventos na história - eles apenas acontecem, para surpresa e desespero dos personagens. A narrativa flui em dois níveis: o primeiro, óbvio, concentra-se nos eventos relativos aos ataques dos pássaros; o segundo, foca no jogo de forças entre os personagens - enquanto Melanie busca o envolvimento com Mitch, precisa, ainda, lidar com a possessiva mãe de seu pretendente, bem como com sua insistente ex-namorada, que se mantém orbitando em torno da família dele. A narrativa é linear e alterna momentos de ritmo lento, onde há uma minuciosa construção da tensão, aproximando a obra do suspense, com outros bastante dinâmicos, onde a violência dos pássaros explode e o filme torna-se o mais puto terror. A atmosfera inicial é leve, mas, à partir do primeiro ataque, passa a ganhar uma tensão progressiva, culminando na cena do ataque final. É claro que, para os padrões de hoje, os efeitos especiais são modestos, quase precários, mas, para a época, significavam o que havia de mais moderno, tanto que o filme foi indicado para o Oscar (1964) de Melhores Efeitos Especiais. O filme conta com uma fotografia colorida de altíssima qualidade e não houve economia de criatividade nos planos e posicionamentos de câmera, sendo comuns plongées, contraplongées e planos-detalhes; inúmeros são, ainda, os movimentos de câmera, assim como os planos que assumem o ponto de vista dos personagens. O diretor optou por não ter trilha sonora incidental na obra, limitando os sons aos ruídos do ambiente - o resultado foi brilhante, uma vez que a opção acabou por realçar o horror dos ataques, que vinham acompanhados de toda a algazarra sonora dos pássaros. Duas cenas merecem ser destacadas: primeira, a cena que antecede o ataque à escola - os pássaros vão, lentamente, se agrupando nos brinquedos do playground, atrás de onde Melanie está sentada; ela não percebe a vagarosa movimentação dos pássaros às suas costas, o que vai construindo um suspense sólido e agoniante. A segunda, a cena do último ataque à casa dos Brenner - a sequência, apavorante, é construída quase exclusivamente pela edição de som, pois os personagens encontram-se trancados dentro da residência e não veem o que ocorre do lado de fora, tendo apenas seus ouvidos como parâmetro. Para mim, a maior fragilidade da obra encontra-se no elenco: Tippi Hedren foi uma ousada aposta do diretor, mas, muito embora tenha sido até agraciada com o Globo de Ouro (1964) como atriz mais promissora, jamais disse a que veio. Eu, pessoalmente, acho que a atriz tem a expressividade de um defunto, além de ser completamente desprovida de carisma ou simpatia: meu desprezo por ela é tal que, por osmose, chegou à personagem e, em alguns momentos do filme, eu quase torci pelos pássaros. O ator Rod Taylor não fica muito à frente de Hedren e, da mesma forma, não me convence em seu papel. Com isso, quem ganhou espaço foi a sempre maravilhosa Jessica Tendy, aqui no papel de Lydia Brenner, mãe do personagem Mitch. O elenco conta, ainda, com Suzanne Pleshette no papel da ex-namorada Annie e Veronica Cartwright como Cathy, irmã de Mitch. Apesar do filme ter me apavorado na infância, hoje ele não tem mais o mesmo efeito sobre mim. Ainda admiro o trabalho de construção da tensão em algumas cenas, mas não tenho o mesmo apreço à obra que tenho por outras do mesmo diretor. Para mim, é um filme okay, mas nada que se compare a um "Psicose" (1960), por exemplo. Mas não deixa de ser um Hitchcock, então, até vale a visita.

 
 
 

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