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“Os Pícaros”, de Mario Monicelli, 1987

hikafigueiredo

Filme do dia (53/2023) – “Os Pícaros”, de Mario Monicelli, 1987 – Espanha, século XVI. Dois vagabundos, Lazarillo (Enrico Montesano) e Guzmán (Giancarlo Giannini), conhecem-se em uma galera enquanto condenados por crimes diversos. Eles conseguem fugir do navio, se separam por um tempo, mas se reencontram e começam uma “sociedade”, aplicando golpes e pequenos delitos.





Nessa deliciosa comédia de Monicelli, inspirada livremente em dois romances picarescos espanhóis (“Lazarillo de Tormes” e “Guzmán de Alfarache”) e ambientada no final do período renascentista, acompanhamos as desventuras de dois malandros pela sobrevivência. Enquanto Lazarillo provem de uma família miserável e foi entregue, ainda criança, para um tutor cego e cruel, Guzmán viu o pai, outro malandro incorrigível, morrer na forca. Após suas infâncias violentas e conturbadas, ambos se tornam “pícaros” – espertalhões que se valem da boa fé ou ingenuidade alheias para praticar golpes. Pulando de galho em galho, os dois acabam criando uma amizade e tornam-se sócios em pequenos delitos. Pelo seu caminho, encontrarão um grupo de saltimbancos, um nobre gentil e falido, um cafetão velhaco, uma prostituta caprichosa e outras inúmeras figuras bufas que farão a alegria – ou não – dos dois anti-heróis. A obra é simplesmente deliciosa!!! São diversos pequenos esquetes nos quais os protagonistas, juntos ou separados, terão de usar de sua criatividade, cinismo e atrevimento para se “safar”, sempre buscando tirar algum proveito da situação (e, na maioria das vezes, se dando mal com a ousadia). Claro que, mais uma vez, há certa crítica social – a miséria em que os personagens vivem tem um fundo histórico, pois ambos estão reproduzindo uma longa tradição familiar de pobreza e malandragem. Como de costume, também, tudo é tratado com muito humor e leveza. A história conta com o profundo carisma dos personagens – não apenas nosso anti-heróis picarescos são extremamente carismáticos, mas diversos coadjuvantes ganham a nossa simpatia, como o Marquês Felipe de Aragona, com sua profunda generosidade e gentileza, ou a geniosa prostituta Rosário e todos os seus caprichos. A narrativa é parcialmente linear – há dois flashbacks das infâncias infelizes dos protagonistas -, em um ritmo ágil, extremamente fluído. O roteiro é amarradíssimo e consegue entrelaçar bem as duas histórias originais (ninguém diria que são dois romances separados). A fotografia colorida é bem clara, com cores saturadas e muitas cenas externas, em planos médios e abertos. Gostei muito do desenho de produção de época, bem caprichado e convincente. Como em outros filmes do diretor, um grande destaque é o elenco, escolhido com cuidado cirúrgico. A dupla central – Giancarlo Giannini e Enrico Montesano - está excelente em seus papeis, ambos com forte veia cômica. A malandragem de Lazarillo e Guzmán não é absoluta e muitas vezes agem com ingenuidade e altruísmo e é impossível não desenvolver verdadeiro carinho pelos dois personagens. Mas, não há brilho maior do que o de Vittorio Gassman como o altivo, generoso e miserável Marquês Felipe de Aragona, retomando, de certa forma, o charme de seu personagem mais famoso, Brancaleone (fanzaça do ator). No elenco, ainda temos Nino Manfredi como o tutor cego de Lazarillo e Giuliana De Sio como a prostituta Rosário. O filme é delicioso e seus 130 minutos passam num piscar de olhos. Adorei e recomendo muito!!!!

 
 
 

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