Filme do dia (257/2017) - "Paula - A História de uma Subversiva", de Francisco Ramalho Jr., 1979. Marco Antônio (Walter Marins) é um arquiteto de meia-idade, cuja filha desaparece repentinamente. Ao buscar a ajuda da polícia, depara-se com Oliveira (Armando Bogus), o mesmo delegado que, anos antes, prendeu, torturou e matou Paula (Carina Cooper), líder estudantil e amante de Marco Antônio. O encontro trará terríveis lembranças ao arquiteto.

Apesar de ter temática política, o filme até que pega bem leve quanto à questão da ditadura no Brasil, muito provavelmente porque ainda sentíamos, em 1979, época em que foi realizado, reflexos da fase mais violenta dela. Assim, temos cenas que sugerem as torturas e os assassinatos praticados pelas forças repressivas, mas nada que sequer se aproxime das cenas explícitas e perturbadoras de "Batismo de Sangue", por exemplo. A questão política, aqui, é diluída nos dramas pessoais do personagem Marco Antônio, como se o diretor tentasse amainar o tema - dá a impressão de que o diretor queria muito tratar do assunto, mas temia as consequências de pesar a mão na denúncia. O argumento, enfim, é bem interessante, mas poderia ser melhor desenvolvido, caso não houvesse um risco excessivo em aprofundar a questão. Quanto à forma, temos aqui uma clara influência da pornochanchada - as cenas de sexo e nudez (logicamente só feminina) são absolutamente dispensáveis, quase "forçadas", estando deslocadas do resto da obra. Outra coisa que chama a atenção é a qualidade técnica deplorável - uma edição de som de chorar, com uma dublagem que chega a ser tosca; uma fotografia "chapada", sem qualquer nuance, feia de doer; uma direção de atores sofrível que, tirando Armando Bogus e Walter Marins (e olhe lá), trazia a naturalidade de um boneco de cera às cenas; apesar do roteiro não ser ruim, os diálogos eram, em grande parte, medonhos, diálogos que jamais existiram na vida real. Falando assim, parece que o filme é desprezível, mas nem é. Não que seja filmão - não chega a tanto - mas o tema importante traz valor à obra. Além disso, o filme pode ser considerado um documento histórico acerca daquele período (trágico... rs) do cinema nacional e, assim, não merece ser execrado. Ainda assim, só recomendo para quem interesse especial sobre o cinema brasileiro ou sobre a temática política em questão.
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