Filme do dia (97/2018) - "Portal da Carne", de Seijun Suzuki, 1964 - Após a Segunda Guerra, o Japão está arrasado e, em Tókio, um grupo de prostitutas se une e adota um rígido código de conduta. A chegada de um ex-combatente abalará as relações do grupo de mulheres.
Nesta obra, Suzuki mais uma vez envereda pelo submundo da sociedade, retratando a vida das prostitutas e demais alijados sociais. Aqui, as relações são mostradas com toda a sua crueza, inexistindo concessões, de forma que qualquer deslize merece o castigo mais severo. O ambiente é quase inóspito, fazendo com que os personagens fiquem sempre na defensiva. Há, ainda, na obra, um forte componente erótico e fetichista. Dos filmes do diretor a que eu assisti, este é o que tem a trama mais simples e linear. Por outro lado, é também a obra com mais ousadia no que tange à linguagem e ao uso da fotografia - inúmeras são as cenas em que imagens se sobrepõem ou que dividem o quadro, sempre com forte carga dramática envolvida. O diretor faz, ainda, uso de muitos planos de detalhes - principalmente faces e olhos - criando atmosfera de tensão ou, por vezes, volúpia. Há íntima colaboração entre fotografia, direção de arte e montagem na composição de cenas ousadas e inabituais (como, por exemplo, nas cenas das prostitutas com luzes coloridas). Visualmente, é um filme bonito e muito colorido. Mais uma vez temos a participação de Yumiko Nogawa, aqui no papel de Maya (ela participaria, no ano seguinte, do filme "História de uma Prostituta") - não sei bem porquê, mas as feições dela me lembram demais a Scarlett Johansson. A obra é simplesmente ótima, mas bastante pesada, até mesmo cruel. Ótimo retrato dos destroços de uma guerra e das consequências desta na vida das pessoas. Recomendo.
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