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hikafigueiredo

"Porto", de Ingmar Bergman, 1948

Filme do dia (230/2018) - "Porto", de Ingmar Bergman, 1948 - A jovem Berit (Nine-Christine Jönsson) conhece o ex-marinheiro Gösta (Bengt Eklund) e com ele começa um romance. No entanto, o passado de Berit em um reformatório poderá abalar o relacionamento do casal.





O diretor Ingmar Bergman, em sua vasta obra, ainda que tenha concentrado seus interesses nas complexas relações humanas, em especial nos relacionamentos familiares e amorosos, discorreu, ainda, sobre uma ampla gama de temas, muitas vezes complementares àqueles mencionados. Pois esta é a exata situação deste filme. O objeto central, aqui, é o relacionamento de Berit e Gösta, mas, subsidiariamente, temos um retrato profundo da sociedade patriarcal e machista, das normas sociais sexistas e da injustiças sofridas pelas mulheres. Berit cresceu em um lar conflituoso - com uma mãe abusiva e que praticava forte alienação parental, Berit era constantemente envolvida nas discussões entre seus pais. Fugindo dessa situação, Berit acaba se envolvendo com um rapaz - e aqui começa o absurdo machista vivido pela personagem. O envolvimento com o rapaz acaba por levar Berit para o reformatório - sim, ela é enviada para a custódia do governo apenas por ter se envolvido com um homem!!!!!! Nada aconteceu com o rapaz por ter deflorado a adolescente Berit, mas ela foi trancafiada por ter permitido essa conduta - dois pesos e duas medidas decididos apenas em função do gênero dos envolvidos!!!! E ao longo da história, Berit é julgada constantemente por esse passado "subversivo" - revoltante!!!! Outra crítica feroz que consta na obra envolve a questão do aborto. Lá, na época, como aqui no Brasil hoje (e sempre), as mulheres ricas interrompem a gravidez indesejada sob as melhores condições médicas e de assepsia, enquanto que as pobres precisam recorrer aos carniceiros de plantão - muito atual!!! Além disso, o filme mostra como a responsabilidade sobre a interrupção da gravidez recai sempre e unicamente sobre a mulher - curiosamente, ela não chegou sozinha à gravidez indesejada, né, mas o homem que colaborou para isso jamais assume sua parte. Vê-se, pois, que a obra discorre - e muito - sobre as relações desiguais de gênero e o quanto essa desigualdade pesa, exclusivamente, sobre a mulher. É um filme com um gosto amargo, mas com um final animador (sem spoilers), algo não muito comum nos filmes do diretor. Como sempre, por outro lado, a obra é rica em temas, leituras e enfoques e talvez outro espectador veja questões que eu não me atinei (o que daria ótimas discussões). Destaco a belíssima fotografia P&B, em especial nas cenas do porto. Além da ótima interpretação de Nine-Christine Jönsson, destacaria, ainda, a atuação de Mimi Nelson como Gertrud. Mais uma obra maravilhosa de Bergman.

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