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  • hikafigueiredo

"Problemas Femininos", de John Waters, 1974

Filme do dia (137/2020) - "Problemas Femininos", de John Waters, 1974 - Dawn Davenport (Divine) é uma adolescente rebelde que foge de casa por não ganhar os sapatos chá-chá-chá que pedira de Natal. Ela é abusada sexualmente por Earl Peterson (Divine) e acaba grávida. Para sobreviver, Dawn acaba se envolvendo com a criminalidade até se tornar uma musa do crime.





Trash até os ossos, essa pretensa comédia - digo pretensa porque a obra é tão sombria e cruel que ultrapassou meu apreço pelo dito "humor negro" (pedindo perdão novamente por usar essa expressão) - critica, principalmente, a espetacularização da vida e, em especial, do crime. Dawn é egoísta, cruel, canalha, mas, acima de tudo, fútil e "deslumbrada" e tudo que faz em sua vida é para atrair holofotes e ficar famosa. Diferentemente dos demais filmes do diretor, não consegui achar graça na maior parte das situações vividas pela personagem - ao contrário, as situações me deixaram bastante desconfortável e, mais do que isso, angustiada. Bom... certamente é a obra mais transgressora das quatro a que assisti, mas não acho que a transgressão pela transgressão seja tão interessante assim, prefiro algo com uma crítica mais sólida e diversificada. A transgressão, aqui, inclusive, alcança a própria forma do filme - a fotografia é bem suja, lavada, sem brilho ou saturação, há muitas câmeras na mão, os enquadramentos são propositalmente desleixados. Tive a impressão de estar vendo um filme caseiro, daqueles bem mambembes. O som - sempre direto - era igualmente "largado", por vezes abafado, outras horas estridente. A direção de arte também parecia improvisada - com exceção dos figurinos, bem caprichados, mas intencionalmente cafonérrimos, exageradíssimos, tudo beeeeem "over". Aqui as interpretações chegaram aos píncaros da canastrice - todo mundo, na obra, fala como se estivesse lendo o texto (e pela primeira vez). Os movimentos são engessados, coisa de teatro de escola, sabe? A única pessoa que saía um pouco dessa forma era Divine, que, ainda assim, estava longe da atuação melodramática de "Polyester" (1981) e "Hairspray" (1988) - percebi, aqui, que John Waters foi muito mais transgressor e "marginal" no começo de sua carreira e, aos poucos, foi cedendo à indústria cinematográfica; ainda que sempre tenha sido crítico, acabou amenizando suas obras, tanto no conteúdo, menos chocante, quanto na forma, fazendo filmes mais "limpos", com uma estética mais agradável ou, ao menos, mais aceita pela maioria das pessoas. Estou devendo, ainda, assistir a "Pink Flamingos" (1972), mas até hoje estou juntando coragem para ver este. Voltando à obra, mais uma vez John Waters junta uma galera fora dos padrões estéticos vigentes - na real, ô gente feia, Jesus Christ!!! No elenco, além de Divine, Mink Stole como Taffy e Edith Massey como tia Ida, ambas também presentes em "Polyester", Mary Vivian Pearce como Donna, David Lochary como Donald, e mais uma cambada de atores e atrizes amadores, um circo de horror... rs. Olha... é filme para quem quer ver algo muito, mas muito, alternativo. Se você gosta de filme bonitinho, bem realizado, etc, esse não é para você. Não sei se gostei, apesar de curtir tanto trash, quanto cinema marginal. Preciso digerir a obra ainda.

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