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  • hikafigueiredo

"Procura Insaciável", de Milos Forman, 1971

Filme do dia (237/2021) - "Procura Insaciável", de Milos Forman, 1971 - Um casal de pais tradicionalistas sai em busca de sua filha de pouco menos de dezesseis anos que fugira de casa em meio ao advento do movimento de contracultura nos Estados Unidos.





Primeira produção do diretor tcheco Milos Forman em solo norte-americano, a obra estabelece-se no limite entre o drama e a comédia de humor ácido e expõe não apenas o choque de gerações entre pais conservadores e filhos liberais, mas a profunda hipocrisia que sustenta a relação entre adultos e jovens em quase qualquer geração, além de trazer um retrato da sociedade norte-americana quando do surgimento da contracultura no país. Ao longo da narrativa, fica mais que claro que, sob o manto do conservadorismo dos pais, existem indivíduos abertos a experiências e sedentos por novas emoções e , abaixo de uma aparente liberalidade dos jovens, há, na realidade, uma busca por freios e a exigência de que seus pais sejam a imagem da tradição. O foco da história é menos a jovem fugitiva Jeannie e muito mais seus pais, que sairão por completo de sua zona de conforto e enveredarão por experiências as mais diversas para tentar entender a filha - desde contato com substâncias proibidas até intensos jogos sexuais, que fariam a menina fujona corar de vergonha. O filme traz cenas antológicas, como o evento da Sociedade dos Pais de Filhos Fugitivos, que passa de um ameno encontro de adultos maduros para uma alegre confraternização entre indivíduos sob efeito de maconha e álcool - muito divertido!!!! A obra começa intercalando o cotidiano enfadonho dos pais da menina com cenas de uma audição onde encontram-se inúmeras jovens em busca de uma vaga para participar de uma banda hippie. É delicioso ouvir as meninas cantando, ainda que nem todas tenham exatamente talento para a coisa. Dentre as candidatas, sobressaem uma jovem Kathy Bates, já demonstrando seu talento para a interpretação, bem como a ainda desconhecida Carly Simon, deixando claro que iria se tornar uma cantora de sucesso no futuro próximo. A narrativa é linear, muito embora conte com grandes "saltos" temporais. O ritmo é bem marcado, condizente com a história. Algo que me chamou a atenção foi a sonoridade da obra, que não faz uso de música incidental, somente música diegética (música que acontece no universo ficcional), o que faz com que existam inúmeras cenas incomodamente silenciosas, trazendo uma atmosfera seca, crua, para tais cenas. No elenco, Lynn Carly como a mãe Lynn, Buck Henry como o pai Larry, ambos fantásticos em seus personagens. A menina Jeannie é interpretada pela estreante Linnea Heacock, que, pelo visto, não fez mais nada no cinema ou tv. Engraçadas as participações de Tina Turner, ainda não tão conhecida, como cantora de banda na noite, e de Vincent Schiavelli (para quem não liga nome à pessoa, Schiavelli interpretou a "alma penada" da estação de metrô em "Ghost", 1990), como o jovem maconheiro da festa da SPFF. Filme muuuuuito bom, um ótimo representante do novo cinema de Hollywood da década de 1970 e um lindo cartão de visita para o diretor que, em seguida, faria o estupendo "Um Estranho no Ninho" (1975), ganhador de inúmeros prêmios. Recomendo.

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