Filme do dia (12/2020) - "Retrato de uma Jovem em Chamas", de Céline Sciamma, 2019 - França, século XVIII. Marianne (Noémie Merlant) é um pintora que é contratada para fazer o retrato de Héloise (Adèle Haenel), uma jovem prometida a um homem na Itália. Como Héloise se recusa a posar para o retrato, uma vez que este poderá selar o casamento indesejado, Marianne terá de pintar a obra sem que Héloise saiba. Mas um forte afeto surgira entre as duas jovens e Marianne não poderá mais esconder esse segredo.
Lindíssimo filme sobre a condição feminina, a obra retrata a sororidade, o afeto, a amizade, o companheirismo, o apoio, a compreensão e, enfim, o amor entre as mulheres, mas, também mostra a opressão e a ausência de voz e liberdade destas mesmas mulheres. Héloise se ressente pelo casamento indesejado, mas não encontra espaço para se posicionar contra ele. Recém saída de um convento, a jovem sofre por não ter a liberdade de escolher seu próprio destino. Solitária, encontra o afeto e o apoio em Marianne, que, por seu lado, encanta-se com Héloise. Amei que o protagonismo da história concentra-se totalmente nas mulheres - não há um único personagem masculino na obra, apenas figurantes e mesmo assim poucos. É um filme essencialmente feminino - não apenas pela temática, mas pela delicadeza com que trata os assuntos e as relações entre as personagens. Também é um filme que fala muito sobre o olhar - o olhar o outro, no sentido de compreendê-lo na sua essência, o olhar para si mesmo e entender seus sentimentos, os olhos que se cruzam e falam tudo - sim, é uma obra que discorre o tempo todo sobre o olhar. E é através deste olhar que as personagens se aproximarão e se entenderão. O filme é imageticamente belo. As interpretações são tão sensíveis, a troca de olhares de Héloise e Marianne é tão profunda, a tensão sexual entre as duas personagens é inacreditável!!!! O filme é lindo e fortíssimo , ainda que triste, vale muitíssimo a pena vê-lo.
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