Filme do dia (264/2018) - "Roma", de Alfonso Cuarón, 2018 - México, 1970. Cleo (Yalitza Aparicio) é uma jovem de ascendência indígena que trabalha como empregada doméstica na casa de uma abastada família. Morando na casa dos patrões, Cleo aproveita suas poucas horas livres para se relacionar com Fermin (Jorge Antonio Guerrero), mas um evento modificará essa relação.
PQP, que filme!!!! A obra é maravilhosa e não faltam motivos para tal. Para começar, o filme é riquíssimo em temas, abordagens e leituras. Podemos dizer que a obra discorre sobre a realidade mexicana na década de 70. Podemos falar que o filme trata da sociedade capitalista e da luta de classes.Podemos considerar que a história discute a condição feminina, o machismo e a sororidade. Todos esses ângulos de leitura são possíveis e válidos, além de muitos outros, mas, meu predileto, é o que foca nas relações de trabalho de Cleo com seus patrões. A existência de Cleo se funde à daquela família. No entanto, ao mesmo tempo em que a criada esta intrinsecamente inserida naquela relação familiar, ela é relegada a um papel secundário e é evidente o quão "estrangeira" ela é naquela realidade. A vida de Cleo só existe em função da família, é quase uma "não-vida". Ela é a primeira a acordar e a última a ir dormir, tudo gira em torno do casal e de seus quatro filhos. Apesar de adorada pelas crianças, a patroa deixa claro, em pequenas e discretas ações, qual é o "lugar" da empregada. Estabelece-se, aqui, uma relação quase simbiótica entre Cleo e a família - quase, porque, ao ser desigual, perde-se o equilíbrio da simbiose. A relação entre a criada e seus patrões é marcada, por um lado, por afeto e uma fidelidade canina, e, por outro, por um paternalismo incômodo. Sinceramente, a obra poderia render uma tese de metrado fácil, impossível tentar esgotar os assuntos nela contidos em tão pouco espaço, então vou me ater por aqui. Só destaco que existe um diálogo bastante claro entre a Cleo de "Roma" e a Val de "A Que Horas Ela Volta". Ah, devo grifar, ainda, que é um filme de protagonismo feminino - tudo gira em torno das personagens femininas, os homens são todos secundários, o que é muito raro no cinema. Formalmente, o filme é cheio de significâncias e quase tudo nele rende uma leitura e uma interpretação. A fotografia P&B da obra é simplesmente estupenda, de um nitidez rara (a gente vê os poros da pele dos rostos das atrizes!!!). O elenco é perfeito, com lógico destaque para a maravilhosa Yalitza Aparicio, que interpreta Cleo. A obra é toda maravilhosa, mas as cenas do parto e da praia são para entrar para a história do cinema!!!! Filme lindo, até me fez assistir no Netflix!!!! Vale cada segundo de duração! E vai ficar na minha cabeça por dias e dias!!!!
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