- hikafigueiredo
"Rosetta", de Jean-Pierre e Luc Dardenne, 1999
Filme do dia (200/2017) - "Rosetta", de Jean-Pierre e Luc Dardenne, 1999 - Rosetta (Émilie Dequenne) vive uma vida miserável - morando com a mãe depressiva e alcoólatra em um trailer , desempregada e sem dinheiro, a jovem busca, dia a dia, um posto de trabalho qualquer que a tire da penúria e lhe dê uma razão para tocar a vida. Mas alcançar esse sonho pode não ser suficiente.

A obra orbita em torno do desespero e do vazio existencial. A personagem principal está inserida em uma rotina de dificuldades e sofrimento, da qual parece ser impossível sair. Rosetta simplesmente sobrevive, lutando por algo que dê algum sentido á sua vida e que parece nunca chegar. Para o espectador, a sensação é de um sufocamento, uma quase-morte que se prolonga no tempo - por mais que Rosetta debata-se contra a inércia de sua existência, ela jamais sai do lugar, quase como se afundasse na areia movediça. É uma obra triste, angustiante, dolorosa. O espectador, ainda, alterna seus sentimentos em relação à personagem - se por um lado ela desperta empatia em razão de todo seu vazio e sofrimento, por outro é capaz de despertar sentimentos de repulsa face atitudes egoístas e extremamente desleais - em meio ao seu desespero, Rosetta é capaz de qualquer coisa para sobreviver. O roteiro se desenvolve a contento - a repetição de ações consegue dar a ideia de rotina, ao mesmo tempo em que dá a sensação de peso e a dimensão da angústia da personagem. O desfecho me despertou sentimentos ambíguos, não sei ao certo se gostei ou não. A escolha pela câmera na mão, com um clima quase documental, aliada à correria da personagem - quase um "Corra, Lola, Corra" francês - me incomodou um pouco, achei que ia me dar dor de cabeça. A fotografia esmaecida e sem contraste auxilia na atmosfera de angustia. A interpretação da jovem Émilie Dequenne foi tãããão boa e visceral que lhe valeu o prêmio de Melhor Atriz em Cannes daquele ano - seu olhar basso consegue transmitir a ideia de total desesperança, bem como seus ataques raivosos demonstram sua sanha em sair daquela espiral de dor. O filme é muito bom e foi agraciado com a Palma de Ouro em Cannes em 1999 - merece ser visto, mas prepare-se para a porrada. Recomendado.