“Serra das Almas”, de Lírio Ferreira, 2025
- hikafigueiredo
- 28 de abr.
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Filme do dia (30/2025) – “Serra das Almas”, de Lírio Ferreira, 2025 – Interior de Pernambuco. Na distante Serra das Almas, um casal (Mari Oliveira e Jorge Neto) vive uma vida tranquila. A tranquilidade é abruptamente interrompida quando dois amigos de infância do rapaz (Ravel Andrade e David Santos), irrompem ao sítio do casal, trazendo consigo três vítimas de um sequestro (Julia Stockler, Pally Siqueira e Vertin Moura) realizado em Recife. Uma frágil relação de forças se estabelece entre todos os envolvidos, cujo desfecho será tão mais violento quanto ilógico.

Eu simplesmente ADORO o cinema pernambucano! Esse excelente núcleo de cinema conta com diretores incríveis como Cláudio Assis, Kleber Mendonça Filho, Hilton Lacerda, Gabriel Mascaro e Camilo Cavalcante, dentre outros, e obras maravilhosas como “Baixio das Bestas” (2006), “Bacurau” (2019), “Tatuagem” (2013), “Boi Neon” (2015), “A História da Eternidade” (2014), só para citar alguns poucos, já que a produção é bem extensa e de ótima qualidade. Dentre os diretores, temos, ainda, Lírio Ferreira, que nos premiou com filmes como “Árido Movie” (2005) e “Sangue Azul” (2014). Aqui, Lírio Ferreira nos entrega um ótimo thriller, onde as relações entre os personagens se mostram frágeis, instáveis e prestes a romper a qualquer mínimo titubeio. A narrativa começa com uma oposição: de um lado, um calmo banho de rio; do outro, uma perseguição tensa por estradas poeirentas. As cenas se entremeiam, mas a personagem que se banha intui que algo vai acontecer – algo que irá destruir aquela realidade. A chegada de dois amigos de infância – trazendo consigo três vítimas, sequestradas em Recife – é o acontecimento que irá subverter a paz de um jovem casal. Ainda que os amigos se reconheçam, o espectador percebe que há tensões entre o trio, que surgem na forma de ciúmes, despeito, inveja e suspeitas. Forma-se um núcleo masculino, onde o poder se estabelece com um aparente equilíbrio, mas que revelará a fragilidade daquelas relações. Forma-se, tardiamente, um núcleo feminino, onde a vulnerabilidade das personagens é muito evidente – aqui também há tensões e históricos ruins, mas a necessidade de trégua e alianças se mostra muito mais emergencial. A dinâmica entre os agentes é bastante mutável e, em pelo menos um momento, fui realmente surpreendida pela reação (e revelação) de um dos personagens (sem spoilers). A narrativa é completamente não linear – cenas do presente tão constantemente intercaladas por acontecimentos passados que, como em um quebra-cabeças, vão dando o contorno de uma história maior. Há uma alternância de ritmos – alguns momentos são mais parados, mas há a predominância de um ritmo intenso que chega a se tornar quase caótico. A atmosfera é constantemente tensa – até o banho inicial no rio traz elementos de tensão e desconforto e isso aumenta exponencialmente ao longo da história. Gostei bastante da montagem truncada e da trilha sonora que mistura rock pesado com música regional, dependendo do momento. A edição de som merece destaque, pois responsável por vários “picos” de tensão. O elenco não traz nomes muito conhecidos do grande público e se não traz interpretações excepcionais, também não faz feio e nem estraga a narrativa. Do elenco, gostei bastante do trabalho de Mari Oliveira, a qual se mostra constantemente incomodada pela presença dos amigos de infância de seu marido em sua casa; também gostei da interpretação de Ravel Andrade – o personagem, apesar de toda a truculência, apresenta certa ingenuidade quando se trata de seus amigos, e até mesmo certa fragilidade, quando confrontado com sua história, o que o ator consegue transmitir com competência; David Santos tem cenas ótimas, que transmitem a psicopatia do seu personagem que, a certa altura, parece mesmo descolado da realidade – pontos para o ator; e Vertin Moura está ótimo como Gustavo, que, para mim, é o responsável pela maior surpresa da narrativa – adorei!!!! O filme é bem bom, viu. Prendeu minha atenção, instigou e entregou um resultado bastante satisfatório. Gostei. Triste foi me ver sozinha na sala de projeção – o filme merecia a atenção do público!!!! Assisti no cinema e recomendo.
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