Filme do dia (113/2019) - "Sob a Sombra", de Babak Anvari, 2016 - 1988. Em meio à Guerra Irã-Iraque, Shideh (Narges Rashidi) tenta, da melhor maneira possível, levar uma vida normal em Teerã, com seu marido Iraj (Bobby Naderi) e a filha do casal, Dorsa (Avin Manshadi). No entanto, quando Iraj é enviado para trabalhar como médico perto do front, Shideh começa a desconfiar que há algo de estranho em seu apartamento.

Aclamado pela crítica e escolhido como representante do Reino Unido no Oscar na disputa de Melhor Filme Estrangeiro, o filme vai muito além do que a narrativa sugere. Isto porque a história de terror é somente desculpa para apresentar questões muitíssimo mais sérias e prementes. E, que fique claro, não são poucas as questões levantadas pelo filme. Começa que há um sem número de metáforas ao longo da história que remetem aos mais diversos temas. A entidade que assombra Shideh, então, surge como mera representação dos medos e apreensões da personagem, encabeçados pela guerra, pelas mudanças ocorridas devido à Revolução Islâmica no Irã, pela nova condição feminina (leia-se repressão à mulher), pela dependência do marido, pela solidão, pela responsabilidade da maternidade, dentre outros. Essas metáforas não são tãããão evidentes, há que se perceber, nos detalhes, seus significados ocultos - e é isso que torna a obra tão diferente e especial. Mas, digamos que o espectador não queira "caçar" tais significados, preferindo vivenciar apenas uns minutos de pura história de terror - ainda que a obra perca muito de seu interesse, é, sim, possível aproveitar o filme como tão somente um entretenimento, pois, à despeito de qualquer significância escusa, a história possibilita a leitura superficial e apresenta uma interessante construção de clima que, certamente, vai agradar bastante os fãs de terror psicológico. Ou seja, a obra permite uma infinidade de leituras e vivências, das mais rasas às mais profundas e intrincadas. Deixando de lado esse rico conteúdo de significados e nos atendo à forma, o roteiro é formalmente tradicional, em tempo cronológico e sem grandes peripécias. A obra faz bom uso de câmeras em movimento, em especial nas cenas onde a tensão prevalece. Como já disse, a atmosfera geral é sombria e gradativamente vai ficando cada vez mais tensa. Como de praxe em filmes de terror, a fotografia abusa das cenas noturnas e escuras. Quanto às interpretações, Narges Rashidi está bastante bem como a mulher sob pressão , desesperada para proteger sua prole. Por fim, confesso que não curti o desfecho e mesmo considerando as possíveis interpretações, achei o final meio anti-clímax em demasia. Olha, eu aconselho a leitura mais aprofundada, o que torna tudo bem mais interessante, mas, independente disso, acho que a visita é válida e recomendo.
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