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“Sob o Vulcão”, de Damian Kocur, 2024

  • hikafigueiredo
  • 20 de out. de 2024
  • 3 min de leitura

Filme do dia (126/2024) – “Sob o Vulcão”, de Damian Kocur, 2024 – A família ucraniana Kovalenko encontra-se de férias na ilha espanhola de Tenerife. Na data de embarque para sua terra natal, a família é surpreendida com a notícia de que seu voo foi cancelado porque a Rússia acabara de invadir a Ucrânia.





Representante da Polônia para o Oscar de 2024, o filme retrata o drama de uma família ucraniana que fica confinada na ilha espanhola de Tenerife, quando seu voo de volta ao seu país natal é cancelado porque a Rússia invadira a Ucrânia. Ao longo de alguns dias, os integrantes da família – agora refugiados de guerra – enfrentam diferentes sentimentos e externam reações diversas relacionadas à situação que defrontam. Se, em um primeiro momento, o sentimento de incredulidade é o que impera, gradualmente esse sentimento dará lugar à dor, impotência e revolta. O espectador se depara, então, com o contraste entre a alegria expressada pelos demais hóspedes do hotel – os quais encontram-se aproveitando suas férias – e a angústia da família Kovalenko, involuntariamente presa àquele paraíso turístico. Em meio a festas, comemorações e praias paradisíacas, a família mostra-se deslocada, certa de que não pertencente ao local. Os personagens passam a viver em um estado de “suspensão” no tempo e no espaço – subitamente, nenhum lugar mais lhe cabe e o tempo só acirra mais essa sensação. Sem ter como agir, à família só resta aguardar. O limbo em que os Kovalenko se encontram estimula as tensões, o que deságua em discussões crescentes entre Roman, o pai, e Tassiia, sua esposa e madrasta dos filhos dele. Com foco em Sofiia, a filha de dezesseis anos de Roman, o filme demonstra a indignação que surge nos integrantes da família pelo sentimento geral de alegria e pela animação dos demais hóspedes – a Guerra na Ucrânia não está ali, presente, palpável, para os demais, como para eles. A obra, ainda, abre espaço para uma reflexão – existem refugiados E refugiados. O tratamento dispensado aos refugiados europeus é oposto ao dispendido com os refugiados de outros continentes, em especial aos africanos. Enquanto Roman e os seus são educadamente convidados a permanecerem no hotel gratuitamente, aos refugiados africanos não é dada essa possibilidade, sendo confinados, arbitrariamente, em campos criados para tal fim, a revelar um recorte claramente racial. Há, ainda, um recorte de gênero – Roman, a certa altura, decide que irá se juntar ao exército da Ucrânia para lutar contra os russos, e, para tanto, deixará seus filhos com Tassiia. A esposa o relembra de que eles não são filhos dela e que a responsabilidade deles cabe, de fato, a Roman. Aqui cabe uma reflexão acerca da paternidade, do patriarcado e de vícios destes – homens, com frequência, não compreendem a responsabilidade primordial que eles têm com seus filhos; seus compromissos são outros, são pessoais, e, com facilidade, abandonam suas crias para alguma mulher, mesmo que não a mãe biológica, assumir. É a facilidade da paternidade se comparada à maternidade e são os vícios advindos de papeis de gênero culturalmente impostos. O filme tem um ritmo lento, pausado, o que é compreensível dada a situação de “espera” em que os personagens vivem. A atmosfera é de impotência e “apneia” – o espectador sente como se sua respiração estivesse suspensa e sem ter ideia de quando poderá retomá-la. Destaque para a interpretação da jovem atriz Sofiia Berezovska, a qual interpreta a filha Sofiia – a atriz imprime uma carga de tensão contida e dúvida em sua expressão muito poderosa. Destaque, também, para as duas últimas cenas – a dos fogos de artifícios e a da canção de Mike. O filme é muito vívido, traz à baila discussões importantes e eu fiquei muito bem impressionada. Recomendo, destacando que é um filme de reflexão e não de ações. Assistido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 
 
 

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