Filme do dia (21/2017) - "Sozinho Contra Todos", de Gaspar Noé, 1998 - Após um ato de violência, " O Açougueiro" (Philippe Nahon) vaga sozinho pelas ruas de Paris. Sem emprego, sem dinheiro, sem qualquer perspectiva, seus pensamentos o bombardeiam e sempre retornam ao mesmo ponto - sua filha Cynthia (Blandine Lenoir).

Cara... que filme legal!!!! Não é um filme fácil - trata-se de um mergulho, sem volta, na alma e na mente atormentadas do personagem " O Açougueiro". É incrível como o Gaspar Noé brinca com as nossas emoções, jogando o espectador de um lado a outro. "O Açougueiro" é, antes de tudo, uma vítima das circunstâncias, digno de pena. Mas, apesar de vítima, ele também é uma criatura horrorosa - homofóbico, machista, misógino, xenófobo, racista; seus pensamentos passeiam pela violência, vingança, estupro, incesto, tudo de mais baixo e mais vil. Enquanto o exterior do personagem sugere humildade e perplexidade ante a situação em que se encontra, seu interior revela um furacão de emoções negativas, o desejo de fazer o mal, a aspiração pela vingança. Sério... é impressionante como as emoções que afluem com o filme são confusas e contraditórias, indo da piedade ao asco, da raiva ao temor, um festival de sentimentos e sensações os mais díspares!!!! E a solidão do personagem? Palpável, dolorosa, infinita. Quanto à forma, o filme não nos deixa esquecer de que se trata de Gaspar Noé - planos longos e abertos num momento; planos fechados em olhos, mãos, bocas em outros; movimentos de câmera rápidos, seguidos de um som "explosivo", como relâmpagos... tudo misturado. A narração em "off", verborrágica, confusa, violenta, vomitando impropérios e verdadeiros horrores, em contraposição à apatia exterior de "O Açougueiro". O filme é intenso, assustadoramente visceral... não é fácil... Eu adorei, mas recomendo com cuidado porque acho que muita gente vai detestar.... Recebeu Prêmio Revelação em Cannes em 1998.
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