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"Submarino", de Thomas Vintenberg, 2010

hikafigueiredo

Filme do dia (216/2021) - "Submarino", de Thomas Vintenberg, 2010 - Nick e seu irmão são dois meninos que recebem a incumbência de cuidar de seu irmão bebê enquanto sua mãe alcooliza-se com frequência. Apesar dos cuidados dos garotos, o bebê acaba por falecer, trazendo sofrimento e culpa aos dois meninos, que trarão repercussão na vida adulta de ambos.





Vintenberg traz, nessa obra, uma triste e tocante história sobre afeto, responsabilidade, culpa, compromisso e cumplicidade. Traz, ainda, uma narrativa acerca de desagregação familiar, inadequação social e dificuldade relacional e afetiva. Nick e seu irmão cresceram em um lar inseguro, com uma mãe alcóolatra e abusiva. Apesar disto, eram afetuosos entre si e com o irmãozinho bebê, de quem cuidavam com carinho, o que não impediu sua morte. Este fato torna-se a gota d'água para destruir qualquer possibilidade de um futuro estável para os dois irmãos, marcando, para sempre, suas vidas. Já adulto, Nick acaba em um abrigo para indigentes, após passar um tempo na prisão e ver seu casamento fracassar. Alcoólatra como a mãe, Nick recebe a notícia da morte dela e, em seu funeral, reencontra o irmão mais novo, de quem estava afastado há muitos anos, dando-se conta de que a vida de seu irmão não fora muito melhor que a sua. Vintenberg narra a história dos dois irmãos no melhor estilo "mundo cão", muito embora os personagens sejam apenas dois homens marcados por trágicos acontecimentos e não pessoas de má índole. É curioso como o diretor consegue passar uma ideia de afeto e bondade nos dois personagens, mesmo com históricos de vícios e criminalidade. A narrativa é não linear, intercalando diferentes momentos da cronologia dos fatos. O ritmo é relativamente lento, mas não é minimamente cansativo. A atmosfera é de desalento e desesperança, uma tristeza profunda parece pairar sobre a história constantemente. A fotografia ganha tons frios, azulados, o que colabora com certa sensação de distanciamento que brota no espectador. O filme tem pouquíssima trilha sonora - a primeira manifestação de música diegética na obra ocorre após meia hora de narrativa e só torna a acontecer outras três ou quatro vezes ao longo do filme. As interpretações são bastante viscerais - Jakob Cedergren interpreta Nick adulto e consegue imprimir um certo vazio existencial, um anestesiamento no personagem, por vezes interrompido por arroubos de fúria incontida; Peter Plaugborg interpreta o irmão de Nick e seu personagem, ao contrário do irmão, traz tensão constante. No elenco, ainda, Patricia Schumann como Sofie e Morten Rose como Ivan. Apesar de contundente, a obra ainda está longe do impacto de "Festa de Família" (1998), aproximando-se mais de "A Caça" (2012). É uma obra muito tocante e me deixou bastante sensibilizada. Gostei e recomendo.

 
 
 

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