Filme do dia (54/2018) - "Três Anúncios para um Crime", de Martin McDonagh, 2017 - Mildred Hayes (Frances McDormand) é uma mulher de meia idade inconformada com o assassinato de sua filha. Após sete meses de investigações e nenhum suspeito sequer apontado, Mildred parte para uma ação desesperada - coloca três outdoors em uma pequena estrada da cidade onde mora, no interior dos Estados Unidos, cobrando o xerife local de uma solução, o que despertará a ira de alguns policiais e moradores.
Bastante curiosa a reação das pessoas a esse filme. Vi amigos odiando a obra, outros enaltecendo. Vi críticas elevando o filme à oitava maravilha do mundo e outras jogando-o para o limbo cinematográfico. Eu, logicamente, entrei nesse redemoinho de opiniões diametralmente opostas sem compreender aqueles que tiveram a percepção contrária. Sou da turma que adorou o filme (sem no entanto achá-lo o filme da década - menos também, né?). Tenho de admitir que me envolvi com a história e curti cada segundo de projeção - mesmo aqueles evidentemente inverossímeis. Vamos começar pelo assunto de que trata o filme - eu diria que a obra trata da indignação, da raiva incontida, do descontrole que faz quem tem razão perdê-la e da sensatez de quem consegue sair da espiral de acusações para assumir uma posição mais razoável. Eu diria, ainda, que a história gira em torno de pessoas que querem ter a última palavra e ganhar uma discussão no grito, mesmo que percam totalmente a razão e se afastem daquilo que os motivou. Mildred está indignada. Ela precisa externar sua dor e raiva em alguma coisa, ela precisa achar um culpado, mesmo que não seja exatamente aquele que assassinou sua filha. Ela despeja sua irresignação no xerife que sofre de uma doença grave e terminal - fato conhecido por todos na cidade, inclusive pela própria Mildred. Como uma bola de neve, indignação e raiva vão tomando proporções avassaladoras, cada vez arrebanhando mais desafetos, até explodir em atos de violência e barbárie indefensáveis. Achei interessante como o filme propõe certa "humanidade" nos personagens - ninguém aqui é totalmente correto, bom, razoável , tampouco ruim, doentio ou desprovido de razão. Ao contrário, os personagens são contraditórios e emotivos, quase caóticos. E aqui está a grande força do filme: as interpretações desses personagens ensandecidos e cheios de raiva por uma equipe de atores de primeiríssima linha. Frances McDormand está grandiosa como Mildred e, ainda que algumas atitudes dela sejam exageradíssimas, eu adorei a maneira "osso duro de roer" como ela é mostrada. Woody Harrelson também está ótimo como o xerife Willoughby, o único razoável na cidade. E Sam Rockwell arrebenta como o transtornado policial Dixon (um aparte: ele está ótimo dentro do personagem como foi pensado. No entanto, esse personagem, na minha opinião, é exagerado demais, chega a ser inverossímil... ou talvez, em tempos de Donald Trump e insanidade generalizada, ele nem seja tão absurdo assim, vai saber). Esses personagens relacionam-se de maneira amorfa, contrapondo-se em um momento e tecendo "alianças" e apoios em outro, quase um reflexo de seu caos interior. A obra não é visualmente arrebatadora - não, chega a ser sóbria até, mas isso compôs bem com os excessos da narrativa. O ritmo é ágil e escalonado, alcançando, a cada momento, um patamar mais alto de piração e violência. Okay.... o desfecho deixou um pouco a desejar, mas também não vejo como poderia ser diferente considerando como se chegaram aos excessos. Bom... eu gostei bastante e sei que aqui não vai ter meio-termo: ou vai curtir muito ou vai achar fraquíssimo. Em outras palavras: vai lá, arrisca, tenta a sorte... PS - McDormand é um monstro, cara!!!! Duvido que perca esse Oscar.
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