Filme do dia (141/2020) - "Trainspotting", de Danny Boyle, 1996 - Em um subúrbio de Edimburgo, na Escócia, um grupo de jovens amigos sobrevive à completa falta de perspectivas e à ausência absoluta de sonhos através das drogas e da criminalidade.
Disposta a assistir à obra "T2-Trainspotting" (2017), achei por bem rever ao primeiro filme - "Trainspotting" , de 1996 - para pegar o fio da meada. Tinha pouquíssimas recordações da primeira obra, exceto pelo fato de tê-la adorado. Revendo, cheguei a duas conclusões: primeiro, minha memória me prega terríveis peças e o pouco de que me lembrava - a horrorosa cena do bebê - é completamente diferente do que eu me recordava; segundo, pelo menos minha memória foi honesta comigo e a lembrança de ter adorado o filme se confirmou, acho que até gostei mais após a segunda visita. O filme é uma adaptação do livro homônimo de Irvine Welsh e discorre sobre a falta de perspectiva e niilismo dos jovens dos subúrbios pobres da Grã-Bretanha, mais especificamente da Escócia, regados a muita criminalidade e muito mais drogas. O roteiro, excepcional, consegue transpor, para as telas, os altos e baixos do personagem central - Mark Renton, um jovem viciado em heroína e envolvido em pequenas contravenções que tenta, por diversas vezes, abandonar o vício. Assim, acompanhando a montanha russa física e emocional do protagonista, temos cenas extremamente eufóricas, seguidas de outras melancólicas e até mesmo (bem) depressivas. O ritmo é muito intenso, mas não segue uma aceleração crescente - há, aqui, a alternância de momentos de ritmo muito marcado com passagens mais lentas e suaves. A história é narrada em "off", na primeira pessoa, pelo personagem Mark, então, seguimos, quase o tempo todo, o ponto de vista do protagonista. Apesar de tratar de temáticas dramáticas e muito pesadas, é um filme muito enérgico, sanguíneo, mesmo com as muitas cenas depressivas. Destaque para as cenas que retratam as "viagens" de heroína de Mark, em especial a nauseante cena do banheiro (prepare-se para ter muito nojo). O roteiro brilhante é acompanhado de uma composição visual impressionante - os enquadramentos nunca são óbvios, e tampouco repetitivos, há uma incrível criatividade na questão dos enquadramentos, com riqueza de plongées, contra-plongées, planos de detalhes, e por aí vai. A fotografia é limpa, bem saturada. A trilha sonora é tão boa, mas tão boa, que chamou a atenção da surda aqui - temos de tudo um pouco: Iggy Pop, Lou Reed, New Order, Blur, Elastica, Brian Eno, quase que só gente famosa (ao menos naquela época). As interpretações não ficam atrás: Ewan McGregor, novinho, está fenomenal como o adicto Mark - a caracterização do personagem está perfeita, com o ator com ar doentio, quase se desfazendo em frente às câmeras, nos períodos em que consome heroína, e um pouco melhor quando "limpo"; Robert Carlyle também está ótimo como o violento e insano Bergbie; no elenco, ainda, Jonny Lee Miller como Sick Boy, Kevin McKidd como Tommy, Ewen Bremner como Spud e Kelly Macdonald como Diane, todo muito bem caracterizado e com boas interpretações. Olha... eu acredito que este é o melhor filme do diretor, muito superior ao oscarizado "Quem quer ser um Milionário?" (2008) e, na minha opinião, merecia ter ganhado mais prêmios. Adorei, a ponto de estar com muito medo de ver a continuação...
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