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hikafigueiredo

"Trem Mistério", de Jim Jarmusch, 1989

Filme do dia (255/2018) - "Trem Mistério", de Jim Jarmusch, 1989 - Em uma noite, em Memphis, no Tennessee, três ações acontecem simultaneamente: um casal de japoneses apaixonados pelo rock dos anos 50 visita a cidade de nascimento de Elvis Presley; uma italiana chega à cidade para buscar o corpo do marido falecido; e um imigrante inglês sofre, junto com seus amigos, a partida de sua namorada.





Jim Jarmusch é um diretor curioso. Em várias obras suas, ele discorre sobre o estranhamento, o "desencaixe", a não-adaptação, a solidão e o estrangeiro fora de seu lugar de origem. Nessa obra aqui, ele trabalha todos esses elementos - todos os personagens centrais são estrangeiros, de passagem ou não pelo local, que surgem como elementos estranhos àquele lugar e àquela realidade. Os personagens, ainda, por mais que estejam acompanhados de outras pessoas, são essencialmente solitários - a moça que implora para que o namorado sorria, o namorado que diz estar feliz, mas não se comunica com a amada; a italiana que não se faz ouvir pela companheira de quarto de hotel e a jovem que fala sem parar mesmo que ninguém ouça; o inglês abandonado que escondeu do cunhado o fato de não ter se casado de verdade com a irmã deste. Até os funcionários do hotel onde tudo se passa parecem deslocados e enfastiados daquela noite que não acaba. A própria cidade parece estranha, abandonada, quase uma cidade fantasma. Okay, estamos a anos-luz do estranhamento e mal-estar causados pela obra-prima do diretor, "Estranhos no Paraíso" (1984), mas ainda assim, os mesmos elementos estão presentes. Como fio condutor, um trem, um hotel, um programa de rádio e a figura de Elvis Presley, todos alinhavando as três histórias concomitantes. A estrutura narrativa é apresentada em três blocos, aos invés de serem entremeadas, ou seja, vamos e voltamos três vezes no tempo. O diretor usa e abusa de travellings laterais, acompanhando a movimentação dos personagens pela cidade vazia (o que dá uma grande sensação de solidão). A trilha sonora, evidentemente, recai sobre o rock da década de 50. Destaque para Tom Waits como a locução do programa de rádio. O filme é beeeeem bacana, ainda que esquisitinho na mesma medida. Curti, gosto das obras de Jim Jarmusch...

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