Filme do dia (113/2017) - "Trono Manchado de Sangue", de Akira Kurosawa, 1957 - O guerreiro Washizu (Toshiro Mifune) recebe, de um espírito da floresta, uma profecia noticiando que ele se tornaria o novo senhor feudal daquela região. Instigado por sua esposa, Lady Asaji (Isuzu Yamada), Washizu assassina o antigo senhor das terras para fazer valer a profecia.
Imagine o resultado da interação entre dois gênios da arte - Willian Shakespeare e Akira Kurosawa. É evidente que não poderia resultar em nada menos que uma obra de arte perfeita. "Trono Manchado de Sangue" é uma transposição de Macbeth para o Japão Feudal do século XVI e talvez seja a melhor adaptação cinematográfica daquela obra. Assisti recentemente "Macbeth" com o Michael Fassbender e gostei bastante.... mas o filme ficou pequeno perto desta adaptação de Kurosawa. Primeiro, porque o diretor japonês tinha o total domínio da linguagem cinematográfica e sabia, como poucos, como contar uma história com os subsídios proporcionados pelo cinema; segundo, porque a parte técnica do filme é, de um só tempo, grandiosa e perfeita; e terceiro, porque o elenco escolhido revelou todo o seu talento na interpretação dos personagens. Se, por um lado, Kurosawa abusa das câmeras estáticas e dos planos abertos, é certo que o faz com maestria. A fotografia P&B suave e fluída dá, em muitas passagens, uma ideia meio onírica, onde nada é muito palpável - bem de acordo com a questão do vaticínio. A montagem, por sua vez, imprime, na maior parte do filme, um ritmo lento, que esgota a dramaticidade de cada plano, extraindo o máximo de emoção de cada cena. A música oriental pontua a obra e, em alguns trechos, parece um lamento, criando um efeito bem interessante. E o elenco, ah, não podia ser melhor escolhido ou orientado! Toshiro Mifune está brilhante como o ambicioso Washizu - é impressionante a expressão que este ator consegue alcançar, com seus olhos muito arregalados e boca crispada. Mas, ainda mais impressionante, é a interpretação de Isuzu Yamada como Lady Asaji - caracterizada como dama da corte japonesa da época, com seu rosto pintado de branco e, seus dentes, de preto, Asaji mantém sua expressão impassível enquanto sibila palavras envolventes ao marido, instigando-o, causando dúvidas e impondo medos a ele. Asaji é a imagem da cobra e é estarrecedor como, em boa parte das cenas em que ela aparece, ela mantém o rosto completamente inexpressivo e olhar vago, enquanto planeja a morte do senhor feudal - de arrepiar!!! A obra, enfim, é espetacular e merece ser vista e revista muitas vezes!!!!!
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