"Tully", de Jason Reitman, 2018
- hikafigueiredo
- 18 de ago. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 23 de ago. de 2019
Filme do dia (92/2019) - "Tully", de Jason Reitman, 2018 - Marlo (Charlize Theron) é uma esgotada mãe de três filhos, incluindo um recém-nascido. Exaurida, Marlo não consegue se organizar e vê sua vida imersa em caos. Seu irmão, então, oferece-se para pagar uma babá noturna. Após certa resistência inicial, Marlo convence-se da necessidade de ajuda, oportunidade em que Tully (Mackenzie Davis) entra em sua vida e começa por ordem no caos de Marlo.

Novamente embarco em um filme com temática essencialmente feminina. Com roteiro da ótima Diablo Cody, aqui o tema gira em torno da maternidade e das questões que vem em seu bojo - as expectativas inalcançáveis exigidas pela sociedade, o desgaste físico e mental das mães, a falta de tempo para cuidar da saúde e da aparência, a sexualidade esquecida em último plano, a solidão, o medo de não fazer o suficiente, as auto-cobranças, dentre outros. A história começa retratando essa mãe esgotada, de aparência largada, vivendo em uma casa caótica e com três filhos nela "pendurados". A situação - asfixiante, desgastante e insustentável -, leva a personagem àquela que, para si própria, é uma medida drástica - a contratação de uma babá noturna para ajudá-la. Assim surge Tully, que, vagarosamente, começa a ajustar a existência de Marlo - primeiro, cuidando da filha caçula, recém nascida, e, gradativamente, assumindo mais e mais tarefas daquela mãe exausta. O roteiro retrata, com fidedignidade, os problemas maternos e acena com soluções prática incríveis até chegar ao que eu imaginei ser uma tremenda "viajada na maionese". A partir de uma determinada cena - sem spoilers - eu comecei a achar tudo muito exagerado e o exercício de sororidade até então explorado torna-se uma relação esquisita e doentia. Eu, prestes a criticar o roteiro, fui surpreendida com um plot twist homérico - o que é raríssimo, pois frequentemente "canto" as reviravoltas que acontecem nos filmes. Com o tal plot twist, o roteiro voltou para os eixos e mostrou, mais uma vez, que o trabalho de Diablo Cody é praticamente impecável. Adorei a forma crua e sem floreios que a maternidade é mostrada - romantismo zero! Também achei bem pertinente o jeito como o companheiro de Marlo é mostrado - apesar de ser um homem comprometido com sua esposa e família, ele é incapaz de assumir parte do peso da criação dos filhos e do funcionamento da casa (e nada, nesse mundo, é mais verdadeiro que isso nas relações heteronormativas), ficando tudo *TUDO* a cargo da mulher, sobrecarregando-a (as cenas em que Drew, marido de Marlo, relaxa jogando videogame, enquanto a esposa se consome em trabalho são cirúrgicas!!!!). Gostei do uso da trilha sonora, situando a personagem no tempo (muita música dos anos 80, indicando uma idade aproximada de Marlo na casa dos 40 anos). Também amei Charlize Theron no papel - a atriz é um camaleão!!! Se pensarmos em seus personagens anteriores (em "Monster", "Mad Max" ou "Advogado do Diabo"), vemos quão versátil é a atriz. Em "Tully", Charlize Theron ganhou mais de 20 quilos e quase não fez uso de maquiagem para interpretar a mulher recém-parida e sem tempo para se cuidar - e sua aparência é tão... humana!!!!! rs. Mackenzie Davis também faz bonito como a jovem e cheia de vida Tully. Para fechar, o filme é ótimo, extremamente feminino, sensível às questões das mulheres e bastante "amarrado". Recomendo.
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