Filme do dia (33/2022) - "Um Pombo Pousou Num Galho Refletindo Sobre a Existência", de Roy Andersson, 2014 - Dois homens cansados da vida sobrevivem vendendo quinquilharias destinadas a animar os clientes, sem muito sucesso.
Oh, Lord... Não sei bem nem como abordar essa obra, de tão... esdrúxula... sim, esdrúxula... que ela é. O filme - talvez o mais niilista que eu já tenha visto nessa minha longa vida de espectadora - trata, objetivamente, do absoluto vazio da existência humana. A obra parece gritar, a plenos pulmões, que nossa vida é comezinha, minúscula, banal e completamente desprovida de significado. Nosso cotidiano é cheio de nada, estúpido e modorrento. São 101 minutos fustigando o espectador com a nossa imbecilidade e ausência de propósitos. Isso é alcançado numa rara coesão de forma e conteúdo (ou, talvez, falta dele) e, confesso, ao fim da obra estava me perguntando seriamente qual é o sentido de tudo. O filme, ainda, faz uso de metáforas e de certo humor ácido para expor a estupidez humana, que é vista através de uma gigantesca lente de aumento. A narrativa, em forma de esquetes autônomos e desconectados dos demais, é errática, o que reforça a ideia central da obra - o despropósito da existência. O ritmo é lentíssimo a ponto de deixar Tarkovski com inveja. A atmosfera é muito depressiva e angustiante chegando a ser perturbadora, incômoda, de tão vazia. Muito do significado da obra advém de sua forma. O diretor optou por câmeras fixas - não há nenhum corte dentro de cada cena-esquete - em planos abertos, onde a (pouca) ação se desenvolve como num teatro. A fotografia é muito clara, sem qualquer contraste e com extrema profundidade de campo, criando um ambiente asséptico, quase hospitalar. As cores são desmaiadas, quase sempre em tons pastéis e sem qualquer saturação. Em cada cena, as ações são mínimas, os movimentos são lentos, as frases, poucas e sem importância, a inexpressividade impera. Os intérpretes, cobertos de espessa maquiagem clara que os deixa cadavéricos, não revelam emoções de qualquer espécie, suas falas são vagarosas, assim como suas reações. Por vezes, parece que os atores e atrizes estão pregados ao chão, tal sua imobilidade. Essencialmente filosófica, a obra foi sucesso entre os críticos quando de seu lançamento, ocasião em que foi agraciada com o Leão de Ouro em Veneza (2014). Sinceramente? É um filme indigesto e de difícil absorção, indicado mais para cinéfilos teimosos e que gostam de fazer a lição de casa. Não vou dizer que não gostei principalmente porque admirei bastante a estética da obra, mas achei - em especial da metade para o fim - um bocado cansativa. De qualquer forma, nunca a miséria humana esteve tão bem representada por um filme. Não vou recomendar, nem dizer para correr dele - diante da minha explanação, é possível entender o "jeitão" do filme, então, fica por conta e risco do leitor a opção de assisti-lo. Para mim, deu - não pretendo revê-lo tão cedo (ou mesmo algum dia).
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