top of page
  • hikafigueiredo

“Uma História Chinesa de Fantasmas”, de Siu-Tung Ching, 1987

Filme do dia (78/2024) – “Uma História Chinesa de Fantasmas”, de Siu-Tung Ching, 1987 – O cobrador de impostos Ning Caichen (Leslie Cheung) chega a uma distante cidade do interior e, sem dinheiro, acaba tendo de pernoitar em um antigo templo mal-assombrado. No local, ele conhece Nie Xiaoqian (Joey Wang) e por ela se encanta, sem saber que a moça é um fantasma.





Muito embora envolva a temática sobrenatural, o filme se aproxima bem mais do gênero fantasia do que do terror, inclusive por não criar nenhuma atmosfera de tensão ou medo e por ter uma forte carga de comédia romântica em sua narrativa, além de uma boa dose de ação. Eu diria que a obra – muito, muito peculiar – tem um pé no “terrir”, pois o humor é marcante na história, motivo pelo qual me remeteu aos filmes de Sam Raimi, em especial ao ótimo “Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio” (1981). A história acompanha o cobrador de impostos Ning, que, ao pernoitar em um templo taoísta abandonado, acaba conhecendo e se apaixonando pelo fantasma Nie. Ocorre que Nie está sob influência de uma criatura maligna que a obriga a seduzir homens e levá-los ao templo para que estes sejam devorados pela tal criatura. Nie, no entanto, também se apaixona pelo jovem Ning e se nega a oferecê-lo em sacrifício para a criatura. Percebendo o sofrimento da moça espectral, Ning se junta ao sacerdote e mestre de espada Yin Chek Hsia, para derrotar o ser maligno e libertar a amada. O roteiro, intrincado, exige atenção para entender o que está acontecendo, principalmente porque conta com várias idas e vindas ao templo. Evidentemente, tudo é muito fantasioso e existe uma “forçada de mão” proposital na história – eu diria que tudo é bem cafona, mas é muito evidente que é intencional, incluindo, aqui, a relação amorosa entre Ning e Nie. Mas, talvez por conta da criatividade envolvida ou, ainda, justamente por sua esquisitice, o filme envolve e o espectador se apega, curioso aonde tudo aquilo vai dar. A narrativa é linear, em ritmo ágil, por vezes frenético. A atmosfera é bem mais de estranhamento do que de tensão, com doses extras de romance barato e humor físico. Formalmente, o filme consegue ser ainda mais incomum. Temos, aqui, uma fotografia sofisticada, com cenas que lembram a estética publicitária, com muitas luzes coloridas, nos tons azuis e amarelos. A fotografia, ainda, usa e abusa dos plongées e contra-plogées, posicionamentos de câmeras raros, movimentos de câmera, cenas em slow motion, trazendo uma infinidade de imagens as mais diversas. Temos efeitos especiais propositalmente toscos, incluindo cenas em stop-motion que me lembraram os filmes do Simbad que passavam na sessão da tarde quando eu era criança. As cenas de luta, repletas de saltos, piruetas e mortais foram feitas por dublês especializados em artes marciais e não envolveram efeitos especiais. A trilha musical feita por sintetizadores me soou datadíssima e completamente deslocada, mas entendo que, na época, isso era bastante comum (lembro de “O Feitiço de Áquila”, 1985, que enfiou sintetizadores numa aventura medieval...). Gostei bastante do desenho de produção de época, muito sedutor, o qual levou o filme a ganhar vários festivais nesta categoria. As interpretações também tendem ao exagero, lembrando qualquer folhetim romântico: Leslie Cheung interpreta o jovem cobrador de impostos e mostra certa veia cômica, bem aproveitada na obra; Joey Wang interpreta a moça fantasma e impõe uma sedução deliciosa à personagem, reforçada pela luz azul bruxuleante e pelas roupas e longos cabelos esvoaçantes; Wu Ma interpreta o sacerdote taoísta e mestre das espadas, para mim o personagem mais esdrúxulo da trama – confesso que demorei para entendê-lo como um personagem que chega para agregar e durante um bom tempo não consegui entender seu lugar na história. A cena final deve ser a coisa mais brega que eu vi nessa minha vida de cinéfila, caí na gargalhada de tão tosca!!!! Enfim, é um filme criativo, alçado a cult principalmente por suas esquisitices. Gostei, mas tem que estar no espírito da coisa. Infelizmente, só pode ser visto por torrent ou mídia física, pois não está em nenhum streaming.

4 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page