Filme do dia (83/2023) – “Uma Loura Por Um Milhão”, de Billy Wilder, 1966 – Após sofrer um acidente de trabalho, o pacato cinegrafista Harry Hinkle (Jack Lemmon) é convencido por seu cunhado pouco honesto Willie Gingrich (Walter Matthau) a forjar uma farsa para arrancar dinheiro em um processo contra a emissora de televisão CBS.
Jack Lemmon e Walter Matthau formaram uma das duplas cômicas mais felizes já feitas na história do cinema. Além de terem uma química perfeita, ambos contavam com veias cômicas indiscutíveis e juntos eram impagáveis. Billy Wilder foi um dos diretores que souberam aproveitar esse incrível trabalho em equipe e aqui temos um exemplo disso. A história começa com um bizarro acidente de trabalho do cinegrafista Harry Hinkle – enquanto filmava um jogo de futebol americano, ele acaba sendo “atropelado” por um dos jogadores e acaba no hospital. Seu cunhado Willie Gingrich, um advogado conhecido por suas falcatruas, começa a tentá-lo a participar de uma fraude, prometendo-lhe milhares de dólares ao fim do processo. Harry nega-se a participar e mostra-se irredutível, mas a possibilidade de sua ex-esposa, por quem ainda era apaixonado, vir a cuidar dele no período de convalescença acaba por convencê-lo a se fingir de gravemente enfermo. Iniciada a fraude, Harry depara-se com “Boom Boom”, o jogador que colidira contra ele, o qual, sentindo-se culpado, passa a cuidar do cinegrafista e acaba se tornando seu amigo. Como todas as obras de Wilder, o filme conta com um humor leve, ingênuo, mas que funciona tão bem que logo envolve o espectador. A narrativa é linear, em ritmo moderado, mas que cresce exponencialmente até o clímax. A atmosfera é leve, agradável, muito embora tenhamos vontade de socar os personagens Willie e Sandy. Billy Wilder concentra a força de sua obra nos diálogos rápidos e irônicos, uma marca registrada do diretor. Formalmente é um filme convencional, bem nos moldes da Hollywood clássica. A fotografia P&B é suave, privilegiando os planos médios. A música foi criada por André Previn e traz aquele clima alegre e nostálgico das comédias das décadas de 50 e 60. O elenco, fantástico, apoia-se na dupla Lemmon e Matthau, que rouba a cena. Jack Lemmon faz o personagem fofo Harry Hinkle, calcado no bom mocismo – algo fácil para o ator, o qual conseguia fazer expressão de bobo como ninguém; Walter Matthau está fenomenal como Willie Gingrich – o personagem é daqueles que quer ter vantagem em qualquer coisa e não economiza nas maracutaias para alcançar algum benefício. Matthau esteve tão bem no papel que foi agraciado com o Oscar (1967) de Melhor Ator Coadjuvante, além de ter concorrido ao Globo de Ouro (1967) na categoria de Melhor Atos em Comédia/Musical; Ron Rich interpreta o jogador “Boom Boom” e Judy West a ex-esposa de Hinkle, Sandy. O filme foi indicado ao Oscar (1967) nas categorias de Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte e Melhor Roteiro Original. Cabe salientar que o filme se mostra francamente favorável à integração, num momento em que os negros lutavam por igualdade na sociedade norte-americana (isso é possível perceber em uma cena em que Harry defende com ardor seu amigo “Boom Boom”) – orgulho de Wilder por seu posicionamento. O filme é gostosinho, leve e total “good vibe”. Gostei muito e recomendo!!!!
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