Filme do dia (335/2020) - "Vício Frenético", de Abel Ferrara, 1992 - Um policial (Harvey Keitel), profundamente envolvido com as drogas e o submundo do jogo, encontra sua chance de redenção em uma jovem freira vítima de estupro.
Com um ritmo alucinante e mostrando a parte mais podre da polícia novaiorquina, o filme discorre sobre corrupção e violência policial, vingança pessoal, empatia, perdão e redenção. Temos, aqui, a contraposição entre a brutalidade do policial e a mansidão da jovem freira violada - o primeiro, indignado com a reação da religiosa ao seu estupro, passa a questionar sua própria conduta frente à vida e à sua profissão. A composição do personagem protagonista é perfeita: ele é o estereótipo do policial canalha e corrupto, envolvido até o pescoço em todos os tipos de contravenções e crimes, abusivo em sua autoridade, displicente com seus deveres (tanto profissionais como familiares ou mesmo seus deveres como cidadão), arrogante e violento. Apesar de toda a violência contida na narrativa, há uma chama de esperança intrínseca na história relacionada ao questionamento do policial causado pela postura da jovem freira. o que dá certo alívio ao peso da narrativa. O desfecho, por sua vez, é irônico, ou mais, é verdadeiramente cínico, apagando qualquer efeito do mencionado alívio. A narrativa é linear, a linguagem é, no fundo, convencional, ainda que o ritmo seja, como o nome em português diz, frenético. A atmosfera geral é densa, sombria e me gerou certa angústia. A fotografia é, predominantemente, escura, pesada, e revela enquadramentos originais e ousados. A obra não seria a mesma sem Harvey Keitel no papel - ele encarna o policial com autoridade, ele assume toda a escrotidão do personagem e seu sofrimento quando confrontado pela imagem da freira - ele está realmente muito bem como o mau policial. Interessante verificar que esse filme foi lançado no mesmo ano que outra obra marcante protagonizada pelo ator, ambas as histórias com ritmo alucinante e violência explícita: "Cães de Aluguel", de Quentin Tarantino, existindo um diálogo bem interessante entre os dois filmes. A obra é considerada o filme máximo do diretor e foi alçada a "cult" ao longo dos anos. Eu gostei bastante, ela me lembrou os filmes do Tarantino, diretor que adoro, e acredito que irá agradar boa parte dos fãs de filmes policiais e de ação. Recomendo.
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