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hikafigueiredo

"Vice", de Adam McKay, 2018.

Filme do dia (33/2019) - "Vice", de Adam McKay, 2018. EUA, década de 1960. Um jovem conhecido por Dick Cheney (Chistian Bale) é incentivado por sua esposa Lynne (Amy Adams) a entrar na política. Iniciando a carreira como assessor do republicano Donald Rumsfeld (Steve Carell), Dick galga postos até chegar a ser, nos anos 2000, o vice-presidente de George W. Bush (Sam Rockwell), tornando-se, assim, o homem mais poderoso do mundo de então.





Pensa em um assunto árido, mais árido que o Deserto do Saara. Discorrer sobre a política interna dos EUA, os conchavos e negociatas dos poderosos daquele país poderia se tornar uma das experiências mais enfadonhas vivenciada por um espectador de cinema em todos os tempos. Poderia... mas não sob a direção de Adam Mckay. Como o diretor já fizera em "A Grande Aposta" (2015) - oportunidade em que pegou outro tema "pedregoso" e revestiu de uma roupagem instigante e, por incrível que pareça, até mesmo divertida -, McKay conseguiu transformar o assunto maçante em uma obra interessantíssima, daquelas que prende o espectador desde o princípio. Com uma visão extremamente crítica dos fatos, o diretor conseguiu aliar o tom de denúncia com uma ironia sólida e um humor quase indecente, arrancando qualquer máscara que poderia ainda resistir acerca do assunto. McKay recobre tudo com um vernizinho fino, mas escancara a natureza sórdida dos detentores do poder na "maior nação do planeta" (*cof, cof*) e evidencia o jogo de interesses por trás das ações promovidas pelo governo norte-americano (a cereja do bolo fica por conta da Guerra do Iraque, mas não se limita a ela). Se o espectador tiver pelo menos dois neurônios e um pouco de caráter, sai da sessão de cinema enojado com a política estadunidense (vamos combinar que precisa ser muito tapado para não entender as ironias e alfinetadas do filme). O "formato" da obra sai do lugar comum, afasta a sobriedade do tema e arrisca ousadias como o letreiro que sobe no meio do filme, a fala shakespeariana em dado momento do casal Cheney e a melhor cena de todas, o jantar em que o maitre oferece opções políticas aos presentes (ironia em sua mais pura natureza!!!! Ameeeeeei!!!), dando uma cara meio Monty Python ao filme, tornando tudo muito mais palatável. O ritmo da obra começa um pouco lento, mas depois que engrena, ninguém segura (minha companheira de sessão achou o filme um pouco longo; eu não tive essa percepção, achei na medida certa). No elenco, repetindo a parceria de "A Grande Aposta", Christian Bale, camaleônico e completamente irreconhecível como Dick Cheney, e Steve Carell como Donald Rumsfeld, ambos asquerosos como deveriam ser; Sam Rockwell está excepcional como George W. Bush - incrível como ele conseguiu reproduzir o olhar bovino, beirando a estupidez, do ex-presidente norte-americano; Amy Adams - atriz que eu adoro - conseguiu me despertar repugnância como a esposa sedenta por poder de Cheney. O filme consegue, como poucos, evidenciar até que ponto chega a ganância por poder de alguns, passando por cima de qualquer humanidade, decência e escrúpulos. Filmaço.

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