"Violência Gratuita", de Michael Haneke, 2007
- hikafigueiredo
- 19 de fev. de 2021
- 2 min de leitura
Filme do dia (86/2021) - "Violência Gratuita", de Michael Haneke, 2007 - George (Tim Roth), Ann (Naomi Watts) e seu filho George (Devon Gearhart) chegam à sua casa de veraneio. Logo são abordados por Paul (Michael Pitt) e Peter (Brady Corbet) que chegam à casa da família como amigos de seus vizinhos, de forma a serem recebidos por Ann e George, sem saber que os dois jovens têm terríveis planos para o casal e seu filho.

Eu gosto dos filmes de Michael Haneke, mas que ele tem problemas, tem. Acho que poucos diretores têm uma imaginação tão doentia e sádica como Haneke que, com frequência, aborda facetas extremamente perturbadoras do ser humano. Nessa refilmagem do próprio diretor (o original é de 1997), Haneke retrata a violência e a pulsão de morte dos personagens Paul e Peter que, encontrando a família desprevenida, passa a se divertir com o sofrimento infligido aos seus membros. Acredito que o diretor tenha tido a intenção de fazer uma crítica ao cinema de violência, ilustrando como ele, na maioria das vezes, é vazio de intenções e justificativas: é a violência pela violência, pura e simples. Não existe qualquer razão para as atitudes dos dois jovens e, tampouco, é dada qualquer alternativa aos membros da família - o que é magnificamente mostrado por uma cena onde Haneke subverte a lógica da narrativa, salientando que o fim daquelas pessoas é único e soberano, imutável e irreversível (sem spoilers). Há, ainda, a quebra da quarta parede, fazendo com que o espectador torne-se quase conivente com o que acontece no interior daquela casa, posto o personagem Paul conversar amigavelmente com o público. É uma obra incômoda, perturbadora e muito muito doente. Mas podia ser pior - pelo menos a obra não tem qualquer cena explícita, o que me deixou bastante aliviada. Naomi Watts e Tim Roth assumiram seus personagens com toda a carga de sofrimento que ele carregam e se saíram muito bem. Michael Pitt, por seu lado, interpretou um Paul absolutamente maligno, debochado e cruel. Não sei dizer se eu gostei do filme - o esvaziamento de qualquer objetivo em relação à violência me incomodou muito, mas desconfio que essa era exatamente a intenção do diretor. Acho que preciso digerir um pouco mais a obra para ter uma dimensão mais clara dela. Até lá, abstenho-me de recomendar.
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