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  • hikafigueiredo

"Você se lembra de Dolly Bell?" de Emir Kusturica, 1981

Filme do dia (174/2018) - "Você se lembra de Dolly Bell?" de Emir Kusturica, 1981 - Dino (Slavko Štimac) é um rapaz de dezesseis anos às voltas com um pai amoroso, porém autoritário, amigos que flertam com a marginalidade e o surgimento do primeiro amor, na figura de Dolly Bell (Ljiljana Blagojević), uma jovem prostituta.

Eu gosto da forma de fazer cinema de Emir Kusturica. Gosto da forma como ele mescla comédia e drama, como retrata o cotidiano dos países que compuseram a antiga Iugoslávia.





O cinema do diretor é completamente autoral e, por si só, interessante e único, mesmo quando o tema não o é. Nesta obra, primeiro longa metragem do diretor, Emir Kusturica faz um pequeno recorte da vida do jovem de dezesseis anos, mostrando um pouco da realidade daquele rapaz. As questões tratadas aqui não são de grandes proporções, não se tratam de eventos excepcionais, não se trabalha em grande escala. O olhar, na obra, recai sobre o cotidiano, sobre os detalhes, o objeto é particular e específico. O diretor consegue, a um só tempo, trabalhar com questões universais - a juventude, a família, o primeiro contato com o amor e o sexo - e tratar de temas pontuais - a vida em um país amalgamado de pequenos outros países e culturas, em um momento de transição após a morte de seu principal líder e que levaria à sua própria desintegração em diversas repúblicas. Não espere um ritmo ágil ou um momento de clímax, pois isso não acontecerá - tal qual um recorte da vida, o filme possui longos períodos de placidez pontuados por pequenos clímaces. Como é comum na obra do diretor, o filme tem um fundo discretamente cômico, evidenciado na figura do pai, um socialista assumido e ferrenho, que trata as questões familiares como discussões de assembleias de trabalhadores, com pautas, comitês e atas em meio aos jantares da família; ou, ainda, com a postura laica dos parentes socialistas frente ao falecimento de um "camarada". Formalmente, a obra também é muito autoral e conta com enquadramentos sofisticados em um momento, e, em outros, com quadros esteticamente esquisitos e que causam estranhamento. A fotografia está longe do virtuosismo da fotografia publicitária - não, ela é granulada, esmaecida e por vezes escura, mas, curiosamente, está absolutamente bem "encaixada" na proposta do filme e eu, sinceramente, não mudaria nada nela. O filme é pontuado por músicas que existem na própria narrativa e duas canções, em especial, repetidas por diversas vezes ao longo da obra. Quanto às interpretações, destacaria a participação de Slobodan Aligrudić como o complexo pai e Slavko Štimac como o protagonista Dino. Eu curti o filme porque gosto bastante de cinema autoral, mas, do diretor, ainda prefiro, mil vezes, "Gat0 Preto, Gato Branco" (esse é fantástico!!!!). Indicado para quem quer fugir do padrão Hollywood de cinema.

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