Filme do dia (215/2021) - "Wiñaypacha", de Oscar Catacora, 2017 - Em um cantão longínquo dos Andes, vivem Willka (Vicente Catacora) e Phaxsi (Rosa Nina), dois idosos octogenários. Dia após dia, eles sobrevivem às intempéries, aguardando o retorno de seu filho que emigrou para a cidade grande.

Ai... que dor! Que obra tocante, sensível e triste, muito triste! O filme trata da sobrevivência, da resiliência, do ato de resistir e seguir adiante mesmo nas piores circunstâncias. Também discorre sobre o companheirismo, o amor, a lealdade e a solidão compartilhada. A narrativa acompanha o penoso cotidiano de um casal de idosos octogenários que vive nos altiplanos peruanos, encravados em meio às montanhas andinas. O dia a dia é árduo, marcado pelas condições naturais hostis, pela solidão duradoura e pelo trabalho pesado para garantir a próxima refeição, circunstâncias que se tornam ainda mais custosas ante às limitações físicas da idade. Enquanto tocam suas vidas, os dois velhinhos aguardam o sonhado retorno do filho que emigrou para a cidade e buscam, através de rituais milenares, qualquer graça divina. A narrativa é linear, em um ritmo muito muito lento. É uma obra profundamente sensorial, que consegue trazer ao espectador sensações únicas acerca da solidão do casal e da imensidão da natureza em que estão inseridos. A atmosfera é melancólica - é angustiante ver a situação do casal, muito embora a relação de cumplicidade entre os idosos seja belíssima e comovente. A fotografia do filme impressiona - com cores muito saturadas (o verde da vegetação tem uma tonalidade incomum), a câmera usa e abusa dos planos muito abertos, aproveitando muito bem a vastidão daquele espaço, sempre em planos fixos. Há a absoluta ausência de trilha sonora, o que confere uma crueza incomum à obra. Os intérpretes - evidentemente pessoas comuns e não atores profissionais - esforçam-se para transmitir uma realidade que, se não for a deles, certamente foi a de seus antepassados. O filme é inteiramente falado na língua aimará, etnia do casal. A obra consegue, a um só tempo, ser bela e pungente, de uma tristeza ímpar. Eu admito que fiquei arrasada com os rumos da narrativa. É um filme bastante incomum e vale demais a pena.
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