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hikafigueiredo

"A Garota da Fábrica de Caixas de Fósforos", de Aki Kaurismaki, 1990

Filme do dia (46/2016) - "A Garota da Fábrica de Caixas de Fósforos", de Aki Kaurismaki, 1990 - Iris (Kati Outinen) é uma jovem solitária que exerce uma função mecânica na fábrica onde trabalha. Sem amigos ou colegas que a acolham, Iris é ignorada por seus pais, que a tratam com descaso. Certo dia, Iris conhece um homem elegante que a convida para seu apartamento. No entanto, a quebra da monotonia de sua vida será apenas ilusória.





O filme retrata a solidão e o vazio existencial da personagem e quais as consequências quando a dor, a pressão e o descaso alcançam o ponto de ruptura, levando-a a atitudes extremas. É uma obra profundamente melancólica, onde a personagem esfacela-se na tela, perdendo até mesmo sua humanidade. Também é um filme bastante silencioso e lento, trazendo para o espectador o "nada" em que Iris encontra-se mergulhada. É interessante ver como a atriz Kati Outinen construiu sua personagem - Iris já está tão "curtida" pelo sofrimento e pela solidão que ela quase não expressa emoções... seu semblante desolado, seus olhos baços, seus movimentos lentos são os de quem já está cansado de nadar contra a correnteza. Mas não se engane quem achar que por não expressar as emoções a personagem não atinge o espectador - não, o público consegue ter absoluta noção de como Iris é uma bomba relógio, absorvendo, silenciosamente, todos os trancos que a vida lhe dá. A expressão vazia da personagem me lembrou, em certos momentos, a do personagem Saul de "O Filho de Saul", igualmente anestesiado pela dor. O filme conta com uma fotografia ligeiramente amarelada, uma coisa meio sépia, que aprofunda a sensação de melancolia. Quase não há cores no filme, à exceção, talvez, do vestido grená que Iris compra, escondida dos pais, para ir ao baile onde, via de regra, ela é ignorada pelos rapazes. Como eu já disse, é um filme silencioso, onde as músicas só aparecem no contexto da própria história - quando não há música no ambiente da história, permanece um silêncio incômodo, pesado. Ah, eu gosto de filmes paradões, densos, tristes, então é lógico que eu curti. Quem curte filmes europeus, deve gostar também.

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