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hikafigueiredo

"A Ilha do Medo", de Martin Scorsese, 2010

Filme do dia (233/2021) -

- EUA, década de 50. O detetive da polícia federal Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio) e seu parceiro Chuck (Mark Ruffalo) investigam a fuga e desaparecimento de uma paciente de um hospital psiquiátrico judicial. No entanto, nada parece ser o que se diz, e Teddy se vê envolvido em uma estranha e suspeita conspiração.

Costumo gostar muito das obras de Martin Scorsese - suas tramas bem desenvolvidas, sua fotografia esmerada e sua câmera ágil sempre me envolveram. No entanto, esta obra nunca passou do "okay" para mim. Ainda que não possa alegar que o filme seja ruim, é fato que todas as vezes em que me propus assisti-lo tive de lutar ferozmente contra um sono recorrente, o que não me soa como um bom cartão de visita. A história situa-se na interface entre os gêneros policial e suspense, pendendo muito mais para o último. A trama começa bastante convencional, mas, gradativamente, elementos "estranhos" começam a ser inseridos em seu desenvolvimento e há um momento em que nada parece ter muita coerência, até o grande plot twist que traz o sentido novamente à história - para quem gosta de reviravoltas e não tem o costume de "cantar a bola" antes da hora, talvez o filme soe muito mais divertido do que para mim, que tenho o péssimo hábito de prever as próximas jogadas. De qualquer forma, o roteiro me pareceu um pouco "esgarçado", em outras palavras, menos sólido do que outros tantos do diretor. O tempo é predominantemente linear, entremeado pelas lembranças fugazes e sonhos do protagonista. O filme traz uma atmosfera onírica que descamba para o pesadelo lá por umas horas, e que, para mim, é um grande trunfo da obra. Ainda que o filme não seja o mais típico do diretor, ainda temos muito Scorsese na obra, começando pela câmera que não sossega um instante - são inúmeros travellings e panorâmicas infinitas (com todas as suas variações), que trazem uma agilidade impressionante à história, bem como as posições de câmera criativas e sofisticadas, os recortes de luz e sombra trazendo atmosfera e o capricho geral da fotografia. Por outro lado, há um uso exagerado - senão abusivo e mal conduzido - do CGI, inclusive em cenas onde a computação gráfica seria absolutamente desnecessária, algo que me incomodou profundamente. Admito que o som do filme me passou completamente despercebido, o que me faz crer que não ajudou muito na condução da narrativa e clima. O elenco, por seu turno, não poderia ser mais talentoso e estrelado - encabeçado por um sempre ótimo Leonardo DiCaprio, que dá vida ao complexo e atormentado Teddy, segue com Mark Ruffalo como Chuck, um personagem aquém do talento do ator; Ben Kingsley interpreta o Dr. John Cawley (acredito que Scorsese pretendia trazer algo nebuloso, suspeito, para este personagem, mas desenvolvi empatia imediata por ele); Michelle Willians interpreta Dolores e a atriz é sempre muito hábil em deixar bem à tona as dores e sofrimentos de suas personagens; Emily Mortimer e Patricia Clarkson completam o elenco, ao lado do venerandíssimo Max Von Sydow (se ele está no elenco, o filme já me ganhou! rs), este último como Dr. Naehring, aproveitando-se seu sotaque (ainda que ele seja sueco e não alemão como a história alegava). Enfim, um filme acima da média geral, mas, na minha opinião, um pouco abaixo da excelência do diretor. Eu o acho um pouco longo - 2h18min -, o que talvez contribua para o sono mencionado, mas, no, frigir dos ovos, acho que vale a pena, motivo pelo qual o recomendo.

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