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hikafigueiredo

"A Mãe e a Puta", de Jean Eustache, 1973

Filme do dia (144/2017) - "A Mãe e a Puta", de Jean Eustache, 1973 - Alexandre (Jean-Pierre Leáud) é um jovem que vive dividido entre Marie (Bernadette Lafont), a mulher que ama e tem uma relacionamento estável, e suas amantes periódicas, por quem se apaixona, mas, depois, abandona. Após ser rejeitado por Gilberte, sua última amante, Alexandre conhece Veronika (Françoise Lebrun),e começa a viver um tórrido e conflituoso romance.





Ai ai... este merece textão. Antes de mais nada, deixar claro, para horror dos cinéfilos de carteirinha: eu acho a Nouvelle Vague um POOOOORRE!!!! Posto isso, e já sendo demonizada pelos intelectuais de plantão, eu assumo meu lado insistente e masoquista, de quem teima em continuar tentando achar a graça nesse movimento, e provavelmente só vai sossegar quando tiver assistido a todas as principais obras dele. Já havia ouvido falar deste filme e lá fui eu, teimar, teimar, teimar. Podem me chamar de qualquer coisa, mas nunca poderão dizer que não me proponho a conhecer as coisas. Vivi 3h27 minutos da mais pura tortura, mas assisti até o fim essa que é considerada uma obra prima da Nouvelle Vague - nunca estive tão perto de ter certeza que eu não curto o movimento MESMO. A Nouvelle Vague foi evidentemente um movimento contestador, que buscava a inovação e a retomada do cinema de autor. Subvertendo a forma e tratando de temas controversos, em especial de natureza íntima (amores, afetos, desejos, etc), o movimento certamente foi inovador - mas talvez nem sempre, nem tanto. Nessa obra, em específico, e sem spoiler, porque a informação fica evidente em meia hora de filme, temos como temática as relações abertas e, no clímax, um triângulo amoroso que converte-se em um menáge. Okay, em 1973, explorar o tema da liberdade sexual que culmina em uma relação à três pode ter sido super transgressor, mas o problema é que o filme faz com que essa transgressão seja puramente superficial e não profunda. Em suma, usa-se um tema transgressor, mas o que vemos é o mais profundo ranço de tradicionalismo e, claro, machismo. O personagem Alexandre é o epíteto da babaquice, é a imagem da escrotidão, dá forma à ideia de inutilidade. Ele é um jovem que não faz nada, não produz nada, que passa a vida parasitando as mulheres ao seu redor, em especial Marie. Dominador e manipulador, ele exige para si a liberdade de ter suas amantes, mas, quando Marie ou Veronika assumem para si tal benefício, ele faz escândalos, dá "piti", e, segundo ele mesmo admite em relação à Gilberte, agride física e emocionalmente a parceira, chegando a quebrar ossos da face da moça. Em dado momento, a personagem Veronika faz um longo discurso - que inclusive, causa nome ao filme - sobre como a única felicidade possível só existe quando duas pessoas se encontram para gerar um filho (!!!!!) e que qualquer outro relacionamento, sexual ou não, é vazio e inútil, mas que nenhuma mulher é uma puta e todas podem ser mães e, assim, felizes e completas. Okay... onde está a verdadeira transgressão???? Cadê a p**** da transgressão???? Porque tem duas cenas bem meia boca de um menáge???? As duas personagens centrais - Marie e Veronika - digladiando-se por Alexandre e sendo emocionalmente consumidas por isso é transgressão onde?????Onde relacionamentos abusivos são transgressores???? De boa, conteúdo mais machista e tradicionalista que esse, eu estou para ver. Quanto à forma, é um pouco mais inovador: não se busca excelência da forma, a fotografia P&B é bem marcada, chegando a "estourar" ou ficar quase completamente escura em algumas passagens. Temos enquadramentos óbvios, alguns planos de câmera na mão, ausência de música incidental (apesar de ter muita música contida na história), planos longos, longuíssimos, de câmera estática, e muitos, muitos mesmo, diálogos e monólogos sobre o nada. Eu não aguentaria aquelas relações por meia hora, que gente chata, meu Deus. Cansei de ver os personagens olhando para o vazio e falando, falando, falando. Não me lembro de ter visto outro filme na vida com tanto falatório sem conteúdo. Para piorar, o filme não me passou emoção alguma, parece que é desprovido de alma, a verdadeira antítese dos filmes do Bergman, Tarkovski, Visconti. Sequer as cenas de sexo são envolventes, instigantes - tive uma incrível sensação de assepsia emocional. A única coisa que destaco de bom na obra foi a interpretação de Françoise Lebrun, que chegou a me passar alguma emoção. Siiiiiim, eu detestei, achei um tormento cinematográfico, um saco, um porre, a perda de 3h27 minutos de vida. Agora, de repente, para quem ama Nouvelle Vague, vai ver é a tal obra-prima que falam. Eu odiei e me nego a recomendar. PS - Para dizer que detestei tudo que vi do movimento, "Jules e Jim" é excepcionalmente bom, assim como "Os Incompreendidos" (acho que Truffaut vale muito a pena). Vou continuar assistindo aos filmes do movimento para ver se pesco mais alguns dos quais goste.

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