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  • hikafigueiredo

"A Mulher Rei", de Gina Prince-Bythewood, 2022

Atualizado: 28 de set. de 2022

Filme do dia (121/2022) - "A Mulher Rei", de Gina Prince-Bythewood, 2022 - África, século XIX. No reino de Daomé, um exército de mulheres, chamadas Agojie, são lideradas pela general Nanisca (Viola Davis). Elas defendem o reinado do Rei Ghezo (John Boyega) das constantes investidas do Império de Oyó, para quem pagam tributos. Quando um general de Oyó, Oba (Jimmy Odukoya) passa a exigir mais tributos, ao mesmo tempo em que sequestra o povo de Daomé para ser vendido como escravo para os portugueses, Nanisca prepara novas Agojie para impedir que o Império sufoque Daomé.





Gente... que filme com prós e contras enooooormes! Antes de mais nada, no geral eu gostei bastante da obra, mas tem algumas questões que não dá para não criticar, sério. O filme foca na General Nanisca, uma mulher guerreira, líder das Agojie, o exército de mulheres de Daomé. A partir deste panorama, a história se desenvolve de uma maneira super fluida, e é praticamente impossível não se ver envolvido pela obra. Agora, vamos analisar um pouco melhor e ver os prós e contras do filme. Como eu curti, vou primeiro desancar o que tem de groselha para, depois, defender os pontos positivos, num admitido movimento de "bate a assopra". A primeira questão que se coloca é sobre a veracidade histórica da obra. O exército de mulheres de Daomé realmente existiu e as Agojie passavam por um treinamento verdadeiramente exigente, a tal ponto que elas se igualavam aos homens no campo de batalha e impuseram diversas derrotas aos exércitos inimigos, inclusive do Império de Oyó. O problema surge quando a obra coloca Daomé - e, portanto, as Agojie - como um contraponto à escravidão negra promovida pelos brancos, como "defensores da liberdade dos povos negros". Isso é uma inverdade sem tamanho. Fui pesquisar a questão e a realidade é que Daomé prosperou muito justamente pelas relações com os portugueses, sendo um importante porto para a embarcação de escravos. Então... acho meio complicado modificar a história e colocá-la de uma forma tão maniqueísta. Evidente que não existe defesa para a escravidão, mas mudar os acontecimentos para que os "mocinhos" não se igualem aos "vilões" não tem cabimento. Isso foi um ponto que "me pegou" no filme. O segundo ponto que me desagradou foi a necessidade de encaixar, sem qualquer motivo para tanto, um papel feminino tradicional à personagem Nanisca. Não posso esmiuçar a questão para não infligir um spoiler monstro, mas há um momento em que a roteirista sei lá por quê cargas d´água achou que tinha de impor tal papel tradicional à personagem - para quê, meu Jesus Cristinho??? Eu fiquei super incomodada com isso e achei super desnecessário. Esses dois pontos me desagradaram no filme. Por outro lado, há motivos de sobra para festejar a obra. O principal deles, é mais que evidente: o retrato de mulheres negras altivas, orgulhosas e empoderadas, dominando uma atividade eminentemente masculina, colocando-se em pé de igualdade com os homens e sendo mais respeitadas na sociedade que eles. Essa imagem que o filme coloca é muito forte, muito poderosa e confronta, a um só tempo, o machismo e o racismo. Impossível não se apaixonar pelo filme por essa questão!!! Segundo ponto interessante: do mesmo jeito que insere as bobagens já mencionadas mais acima, abre espaço para que o espectador - e o mundo - conheça mais sobre uma história que jamais é comentada em livros didáticos, que é a história da África, de reinos grandiosos, de reis poderosos e, até, de mulheres guerreiras. Imagine que fonte inesgotável de narrativas a história africana poderia se tornar! Isso também é incrível e eu achei fantástico. Outro ponto positivo: as mulheres são retratadas sem que haja a objetificação feminina. Mesmo com seus corpos expostos pelas roupas diminutas - afinal, é uma tribo africana! - isso não é explorado para deleite masculino, tudo é feito preservando as personagens e, logo, as atrizes. Incrível ter de apontar isso como um diferencial, mas, infelizmente é sim uma exceção à regra. Continuando os elogios, tecnicamente o filme é impecável. Que fotografia espetacular!!!! Que direção de arte rica e emocionante!!! Que coreografia de lutas maravilhosa!!! E ainda tem a musicalidade tão contagiante do continente africano!!! Gente, é bem instigante. E chegamos ao elenco. Pensou em representatividade, pensou na obra!!! Acho que só tem um personagem branco o filme inteiro. O elenco transborda de incríveis intérpretes negros, homens e mulheres!!!! Começa com a diva-mór, aquela que não erra nunca, a excepcional Viola Davis. Cara, fanzaça dessa mulher, é muito poder numa pessoa só!!! Ela está apaixonante como Nanisca, não tem um fio de cabelo fora do que deveria ser!!! Okay, tem a história que eu disse que lhe impõe, em dado momento, uma papel feminino tradicional, mas a atriz não escorrega nem nesse momento! Além dela, outras atrizes brilham: Lashana Lynch é maravilhosa como Izogie; Thuso Mbedu idem, como Nawi; Sheila Atim está perfeita como Amenza; e somem-se a elas Jayme Lawson, Adrienne Warren, Masali Baduza, Shaina West - só lindas e talentosas mulheres negras!!! Como o rei Ghezo, John Boyega, num trabalho igualmente poderoso. Como o grande vilão Oba, Jimmy Odukoya, muito bem no papel. O personagem Malik é interpretado pelo ator inglês Jordan Bolger, assim como Ferreira é interpretado por Hero Fiennes Tiffin, ambos arranhando um português meio esquisito. Tirando os dois pontos que eu falei no começo, eu gostei demais do filme e acho que ele traz uma força que vi raras vezes no cinema. Eu curti muito e recomendo.

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