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hikafigueiredo

“Brinquedo Proibido”, de René Clément, 1952

Filme do dia (45/2023) – “Brinquedo Proibido”, de René Clément, 1952 – França, 1940. Um casal com sua filha de cinco anos foge de Paris devido à guerra com a Alemanha. Na estrada, os pais da pequena Paulette (Brigitte Fossey) são atingidos por tiros e vêm a falecer. Agarrada ao seu cachorrinho morto, Paulette vaga pelo local até ser encontrada pelo menino Michel (Georges Poujouly), de dez anos, que sensibilizado pela situação da menininha, resolve levá-la para sua casa. Sem muita opção, a família Dolle acolhe Paulette e vê nascer o grande apego da pequena por Michel.





Um dos filmes mais tocantes acerca da infância e de seu lado não cor-de-rosa, “Brinquedo Proibido” é uma obra que vai mexer até com os corações mais peludos. Ainda que tenha a Segunda Guerra como pano de fundo e que ela seja a causa direta da tragédia que se abate sobre a personagem Paulette, o filme não discorrerá exatamente sobre a guerra, mas sobre a vulnerabilidade da infância em momentos dramáticos da vida, incluindo, aí, a guerra. A súbita orfandade da menina é algo que ela perceptivelmente não compreende na sua totalidade. É mais fácil, para a menina, lidar com a morte de seu cachorro que a de seus pais, motivo pelo qual ela se agarra ao corpo inerte do animal como se fosse a única boia em um mar revolto. A chegada de Michel à vida de Paulette lhe trará um alívio e ele será o novo esteio da garotinha. É doce, singela e inocente a relação de afeto que surge entre as duas crianças, tendo Michel como o grande protetor da menina. René Clément nos brinda com uma obra comovente acerca da inocência infantil e sobre a insensibilidade e incompreensão dos adultos frente à infância – ainda que a família Dolle acolha a pequena Paulette, seus integrantes não alcançam o que ocorre afetivamente com a menina e não percebem o apego que se cria entre Paulette e Michel. Os Dolle, também, não são acolhedores, afetuosos ou compreensivos com Michel, que é tratado como um adolescente mesmo sendo ele, tão criança quanto Paulette. A obra discorre, ainda, sobre a perda, a morte e o luto, que surge não apenas como uma terrível intercorrência na vida de ambas as crianças, mas que é tema, também, de suas brincadeiras e discussões infantis. Destaque absoluto para a cena inicial do ataque aéreo às pessoas fugindo de Paris e para a cena final – se ela não te sensibilizar, você já está morto!!!! Nos quesitos técnicos, destaque para a bela fotografia P&B, suave nas cenas diurnas e bem mais marcada nas cenas noturnas; destaque, ainda, para a trilha musical delicada de Narciso Yepes, cujo tema central tornou-se bastante conhecido (não sei como, mas eu reconheci a música). No elenco, as interpretações poderosas e surpreendentes de Brigitte Fossey e Georges Poujouly – Brigitte tinha apenas seis anos à época das filmagens e é incrível o que ela faz em cena (em momentos em que os olhos dela se enchem de lágrimas, a gente quase vai junto desidratar). O filme foi agraciado com um Oscar (1953) Honorário de Melhor Filme Estrangeiro, bem como pelo Prêmio BAFTA (1954) de Melhor Filme e recebeu o Leão de Ouro em Veneza (1952) – muito merecidamente. Esta é uma obra que me toca muito e mesmo na revisão, eu fiquei a pouco de cair em prantos na cena final. Recomendo muito.

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