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hikafigueiredo

“Capote”, de Bennett Miller, 2005

Filme do dia (12/2024) – “Capote”, de Bennett Miller, 2005 – EUA, 1959. O romancista e roteirista Truman Capote (Philip Seymour Hoffman) fica sabendo, através de jornais, do assassinato de uma família no interior do Kansas e resolve escrever um livro sobre o assunto. Para tanto, ele se desloca até o local, na companhia de Nelle Harper Lee (Catherine Keener), e passa a entrevistar os responsáveis pela chacina, desenvolvendo um estranho vínculo com um dos assassinos, de nome Perry Smith (Clifton Collins Jr.).




 

Aproveitando um recorte da vida de Truman Capote – especificamente, o tempo em que ele esteve envolvido com a escrita de sua obra mais conhecida, o livro de não-ficção “A Sangue Frio” -, o filme traça um perfil nem sempre bondoso do escritor. A história compreende, aproximadamente, o período de 1959 a 1966, tempo em que Capote levou para escrever a mencionada obra literária, e vai retratar sua relação com amigos, seu companheiro Jack Dunphy e o assassino Perry Smith. O filme apresenta um personagem complexo, quase contraditório, uma vez que alterna momentos de sensibilidade do escritor, com outros em que ele surge como uma figura fria, egoísta, autocentrada e até mesmo dissimulada – a aproximação de Capote do assassino Perry Smith é curiosa e controversa, uma vez que não fica claro se ele chegou a se envolver emocionalmente com o facínora ou se tudo não passou de um jogo para conquistar a confiança do criminoso. Certo é que, ao longo de quase duas horas de filme, vemos diferentes atitudes do escritor, não apenas em relação a Perry Smith, mas, também, em relação ao companheiro Jack e a amiga de longa data Nelle – há pelo menos uma cena em que Capote é completamente odioso com Nelle, num claro caso de despeito e inveja pelo sucesso da amiga, que acabara de ter seu livro “O Sol é para Todos” transformado em filme de sucesso em Hollywood -, de modo que o espectador experimenta os mais diferentes sentimentos em relação a Capote. Por outro lado, em momento algum seu talento literário é colocado em dúvida, ficando evidente que, como escritor, Capote era genial. A narrativa é linear, em ritmo moderado. A atmosfera é de certo suspense, pois o público sofre, junto com o protagonista, de algumas questões levantadas pela situação – será que Perry Smith confessará o crime para o escritor, esclarecendo as dúvidas acerca de sua ação? A linguagem do filme é convencional, mas merece destaque a cena do último encontro de Capote com a dupla de criminosos,  momento em que os enquadramentos tornam-se mais ousados e a construção de som ganha volume e novos significados (sem spoiler). O desenho de produção de época é caprichado, com ótima caracterização do protagonista. Em relação às interpretações, não tem como negar que o filme é de Philip Seymour Hoffman, simplesmente incrível como Truman Capote – o escritor tinha um jeito bastante peculiar, um tom de voz muito particular, e o ator conseguiu trazer isso maravilhosamente bem para a tela. No papel de Nelle Harper Lee, a sempre ótima Catherine Keener; Chris Cooper, grande ator, interpreta o delegado Alvin Dewey. Como mencionei, Hoffman esteve tão gigante no papel que foi agraciado com os principais prêmios da indústria cinematográfica – Oscar (2006), Globo de Ouro (2006) e BAFTA (2006), sempre na categoria de Melhor Ator. O filme é ótimo, pois consegue dar espessura ao protagonista sem ser didático ou factual – não, o espectador quase intui facetas do escritor através da narrativa. Eu gostei bastante da obra e recomendo.  

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