“Cartas de Iwo Jima”, de Clint Eastwood, 2006
- hikafigueiredo
- 18 de abr.
- 3 min de leitura
Filme do dia (26/2025) – “Cartas de Iwo Jima”, de Clint Eastwood, 2006 – Japão, 1945 – Tropas japonesas estabelecidas na inóspita ilha vulcânica de Iwo Jima aguardam o desembarque das tropas estadunidenses no local. Com uma força bélica consideravelmente inferior, tanto os comandantes, quanto os soldados, sabem que a vitória frente aos estrangeiros é improvável, mas a determinação, o orgulho e o apego à honra farão a diferença na batalha.

Lançado juntamente com “A Conquista da Honra” (2006), dirigido também por Clint Eastwood, ambos os filmes têm o objetivo de desmistificar a guerra e os combatentes, humanizando todos os envolvidos, mas focando, cada qual, em um dos lados do conflito – enquanto “A Conquista da Honra” foca nas tropas estadunidenses, “Cartas de Iwo Jima” concentra-se em retratar o lado japonês, o qual se despe da pecha de vilões habitualmente imputada por Hollywood. Filmes de guerra, com frequência, assumem uma de duas posturas possíveis – ou glorificam o combate, mostrando os feitos heroicos dos soldados, ou põem por terra qualquer heroísmo e mostram todo o horror da guerra e seus efeitos devastadores para os implicados. “Cartas de Iwo Jima” é um caso interessante, pois estabelece-se entre esses dois extremos: embora retrate a inutilidade da guerra e a destruição emocional dos soldados, as questões da honra, orgulho cívico e coragem são incansavelmente mencionadas pelos personagens. Confesso que prefiro filmes mais “engajados” em mostrar o que de pior existe nos conflitos armados – filmes como “Nada de Novo no Front” (1930), “Apocalipse Now” (1979), “Vá e Veja” (1985) e “O Medo” (2015), que reviram o estômago de qualquer um -, mas achei a proposta da dupla de obras interessante, numa clara intenção de mostrar que, em qualquer dos lados, as demandas são exatamente as mesmas e ninguém é intrinsicamente bom ou ruim. A obra se atem ao período compreendido entre a preparação das tropas japonesas para a chegada do inimigo até a derrocada completa do exército nipônico na ilha, após inacreditáveis quarenta dias de batalha. Toda a narrativa é pontuada pelas tais cartas onde soldados “conversam” com seus entes queridos, familiares relatam suas saudades e todos fazem planos para depois do fim da guerra – mesmo levando em conta a improbabilidade de retorno ao lar daqueles combatentes. O filme é longo – 2h20min de duração – e eu acho os primeiros quarenta e cinco minutos muitíssimo arrastados: toda a preparação das tropas, a apresentação dos personagens, o estabelecimento das relações entre eles, tudo é bem vagaroso e, na minha opinião, um bocado protocolar. Mas, a partir desse ponto, o filme engrena, a dramaticidade ganha espaço, o filme se posiciona melhor (no começo parece que o filme vai se encaminhar para o heroísmo da guerra e toda aquela falácia em torno do assunto), os personagens ganham volume e a obra, como um todo, cresce consideravelmente. A narrativa, ainda que seja majoritariamente linear, traz infinitos flashbacks dos personagens principais, os quais relembram acontecimentos anteriores àqueles vividos na ilha, inclusive de interação com o “povo inimigo”. Gosto como os personagens são retratados – todos são passíveis de falhas, fraquezas, medos e, ao mesmo tempo, arroubos de coragem, atos grandiosos, atitudes generosas e altruístas. Formalmente é um filme que conta com todos os melhores recursos de Hollywood, muitíssimo bem feito, mas convencional quanto à linguagem utilizada. A fotografia monocromática e sem brilho em tons de ocre vai ganhando mais e mais tons cinzas e, no fim da obra, quase nem percebemos tratar-se de fotografia colorida e não P&B. Achei alguns embates noturnos um pouco escuros demais, mas talvez tenha sido opção da direção, justamente para causar maior tensão. A edição de som – como é habitual nos filmes desse gênero – é sensacional, trazendo um espessura sonora bastante rica até para mim que sou “surda para cinema”. O elenco, formado quase exclusivamente por atores japoneses nativos, traz Ken Watanabe como o General Tadamichi Kuribayashi, um personagem muito humanizado apesar de sua posição na hierarquia militar. Destaco os personagens Saigo, interpretado por Kazunari Ninommiya, numa interpretação sensível e tocante, e o Tenente-Coronel Takeichi Nishi, interpretado por Tsuyoshi Ihara. O filme foi indicado ao Oscar (2007) nas categorias Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Original e Melhor Edição de Som , sendo contemplado com o último; e também indicado ao Globo de Ouro (2007) nas categorias de Melhor Direção e Melhor Filme Estrangeiro, recebendo, também, o último. Então... é um filme com virtudes, mas há que se passar pelo começo dele que, para mim, é bem chato – ao contrário da hora final, que é excelente. Segundo o Justwatch, o filme está disponível em streaming no Apple TV.
コメント