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“Um Amor Sem Esperanças”, de Desmond Davis, 1964

  • hikafigueiredo
  • há 1 dia
  • 3 min de leitura

Filme do dia (29/2025) – “Um Amor Sem Esperanças”, de Desmond Davis, 1964 – Kate Brady (Rita Tushingham) é uma jovem católica a área rural da Irlanda que se muda com a melhor amiga Baba Brennan (Lynn Redgrave) para Dublin. Em uma viagem, ela conhece Eugene Gaillard (Peter Finch), um escritor bem mais velho, sentindo-se atraída por ele.




 

Baseado no romance “A Garota Solitária”, de Edna O’Brien, o filme faz parte da filmografia da Nouvelle Vague Britânica, abordando, no geral, a vida cotidiana das classes trabalhadoras, e, mais especificamente, o conflito geracional e as mudanças nos rígidos códigos morais ocorridos ao longo da década de 1960. Na história, acompanhamos o desenvolvimento de um relacionamento amoroso entre a jovem romântica e ingênua Kate e o sofisticado escritor de meia idade Eugene. Muito embora Kate sinta-se atraída por Eugene e logo se apaixone por ele, sua natureza extremamente católica e conservadora faz com que eles não consigam consumar a relação sexualmente, frustrando o casal. A interferência da família da moça, que se mostra escandalizada pelo fato de Kate estar envolvida com um homem divorciado, acaba por aproximar ainda mais a jovem de Eugene. A narrativa atem-se às diferenças nada sutis entre Kate e seu amante: de um lado a romântica, provinciana, conservadora e simplória jovem; de outro, o homem maduro, requintado, cínico e desiludido. Eugene se sente atraído justamente pela simplicidade de Kate, pois encontra-se cansado da complexidade das pessoas de seu círculo social, muito mais questionadoras e cultas que a menina. O filme acaba por mostrar o verdadeiro fosso – social, cultural e até mesmo moral – existente entre a elite e as classes trabalhadoras. Também evidencia a hipocrisia da sociedade católica e conservadora ao retratar a família de Kate, a qual condena o relacionamento da jovem com Eugene por ele ser divorciado, enquanto seus parentes embriagam-se e agem com violência, numa completa inversão de valores. Uma leitura mais atual percebe, ainda, no filme, a questão da dominação da mulher pelo patriarcado, quando os homens da família de Kate a “resgatam” de Dublin, obrigando-a a voltar para o interior, para permanecer sob as rígidas rédeas familiares. A narrativa é linear, em um ritmo lento e irregular.  Senti certo estranhamento no decorrer da narrativa pois há momentos em que a trilha sonora sugere certo humor e leveza, enquanto a história já dá mostras de estar se encaminhando para algo bem mais dramático. A atmosfera leve do início encaminha-se para o desalento e a crueza da linguagem afasta qualquer esperança romântica de que a relação do casal vingue. Destaque para os muitos planos fechados na protagonista – a câmera está sempre perscrutando as expressões faciais da personagem Kate, acompanhando cada mudança em seu semblante (adorei a comparação que Eugene faz entre Kate e um lêmure, pois muito pertinente, já que o olhar atento da personagem realmente remonta àquele animal!). Destaque para as interpretações muito marcantes de Rita Tushingham e do maravilhoso Peter Finch – ela com sua expressão de corça assustada; ele, com seu eterno ar blasé. É um filme bem construído, que prende a atenção, ainda que nem de longe surpreenda – desde o começo percebemos que a relação está fadada ao naufrágio, sem podemos dizer que isso é um spoiler! Eu gostei, mas não é um filme marcante., destes que ficam na nossa cabeça por dias. Segundo o Justwatch, o filme não se encontra em qualquer dos streamings disponíveis, portanto, para vê-lo, só por torrent ou mídia física.

 
 
 

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