“Pecadores”, de Ryan Coogler, 2025
- hikafigueiredo
- 18 de abr.
- 3 min de leitura
Filme do dia (27/2025) – “Pecadores”, de Ryan Coogler, 2025 – Mississipi, 1930. Dois irmãos gêmeos – Smoke e Stack (Michael B. Jordan) - voltam à sua cidade natal após passarem um tempo na máfia de Chicago. Com o dinheiro adquirido na ilegalidade, os irmãos pretendem montar uma casa noturna para que a comunidade negra possa ouvir blues, beber e se divertir. Para tanto, chamam seu primo Sammy (Miles Caton), um jovem e talentoso bluesman, para se apresentar no clube. Mas, a noite de estreia vai trazer uma terrível surpresa para todos os presentes.

A questão racial é tema constante do diretor afro-americano Ryan Coogler desde sua estreia nos longas-metragens com o excepcional (e doloroso) “Fruitvale Station: A Última Parada” (2013). De lá para cá, o diretor retornou à temática, de forma explícita ou não, nos filmes que o sucederam, como “Creed” (2015) e o sucesso “Pantera Negra” (2018), este último trazendo a merecida representatividade para aqueles que se identificam como negros. Em “Pecadores”, Coogler revisita o tema de uma maneira para lá de surpreendente, criando uma obra, no mínimo, extravagante e originalíssima. A primeira cena do filme traz o jovem Sammy chegando ferido à igreja onde seu pai é pregador, ocasião em que é acolhido pelos fiéis que ali entoam cânticos religiosos típicos das comunidades negras estadunidenses. Retrocedemos no tempo e vemos Sammy reencontrando seus primos Smoke e Stack que estão montando um clube noturno para essa exata comunidade negra. Enquanto acompanhamos essa montagem, passamos pelos campos de algodão onde a maioria da população negra trabalha, por prisioneiros – todos negros – que cantam músicas típicas enquanto trabalham nas estradas e passeamos por uma das mais importantes vertentes da black music, o blues, além de termos a menção objetiva à Ku Klux Klan, o braço mais violento e asqueroso do racismo nos EUA. A questão racial, portanto, é elemento vital e predominante da obra. Mas o filme não se limita ao terreno do drama que a temática sugere – o diretor amplia de uma forma espantosa a questão, fazendo uso de alegorias e elementos folclóricos para representar a luta do bem contra o mal na qual se inclui a luta por espaço, justiça e liberdade para essa parcela da população negra dos EUA. De maneira surpreendente, o diretor mescla os gêneros drama, musical e terror (!!!!), criando uma narrativa única. Sim, é isso mesmo que vocês leram – musical e terror se fundem sem descambar para qualquer coisa minimamente cômica e com um incrível fundo trágico. Com um ritmo inicial moderado, a obra vai ganhando agilidade até explodir num ritmo alucinante, quando a batalha do bem contra o mal atinge seu clímax. Enquanto isso, temos muita, muita música muito boa acompanhando a história – não apenas blues, que é o estilo predominante, mas também, folk, country, gospel e até mesmo música típica gaélica – tudo isso enquanto o terror corre solto. Por mais que tudo pareça muito bizarro, é um filme MUITO legal e com muita riqueza de significados e interpretações. Eu vejo, na obra, um diálogo bem próximo com o adorável “A Encruzilhada” (1986) e, mais longínquo, com “Um Drink no Inferno” (1996). Destaque para a cena da “comunhão musical” – gente, que cena é aquela? O encontro – segundo a própria narrativa – de passado, presente e futuro e de talentos artísticos únicos e especiais, que levam a uma cena inebriante, quase catártica, tudo em um plano-sequência contagiante! Também destaco o momento do “convite de Grace” – a grande explosão de ação – e a cena de Smoke com o grupo supremacista (que lava a alma). Por fim, a cena final que, para evitar spoilers eu não posso descrever, mas posso adiantar que conta com a presença de Buddy Guy, o célebre bluesman estadunidense. O elenco traz o principal colaborador do diretor, o inigualável Michael B. Jordan, em papel duplo como Smoke e Stack, conseguindo, inclusive, trazer nuances para cada irmão - gente, eu vou babar ovo sim, porque o ator é incrível (além de lindo que só, o equivalente da Beyoncé para os homens!!!! Rs)!!! Temos, ainda, o músico Miles Caton como Sammy (soltando a voz em várias cenas), muito bem no papel; Haille Steinfeld como Mary; Wunmi Mosaku como Annie (amei a personagem fora do padrão estético vigente e absolutamente poderosa!), Li Jun Li como Grace, Delroy Lindo como Delta Slim e Jayme Lawson como a sedutora (outra maravilhosa!!!) Pearline. Eu adorei o filme e gosto mais a cada instante que passa!!! Atualmente nos cinemas.
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