Filme do dia (107/2018) - "Corações de Ferro", de David Ayer, 2014 - Alemanha, abril de 1945. No último front, o sargento "Wardaddy" (Brad Pitt) é o comandante responsável pelo tanque apelidado "Fury" (Fúria). Junto com sua equipe formada por outros três veteranos - Boyd, Grady e "Gordo" (respectivamente Shia LaBeouf, Jon Bernthal e Michael Peña) - e um soldado novato - Norman (Logan Lerman) - ele precisa enfrentar, em total desvantagem, tropas do exército inimigo.
Filmes americanos sobre a Segunda Guerra existem aos baldes. Poucos, no entanto, deixam de mostrar o exército norte-americano como os "salvadores da pátria", os guardiões da liberdade e humanidade, os "caras bonzinhos". Eis o grande mérito da obra - os soldados americanos, como quaisquer outros soldados, são embrutecidos, desumanizados, doentios, cruéis. O filme não retrata soldados limpinhos, quase lustrosos, que tratam com educação e humanidade seus inimigos - militares ou civis. Não, o grupo comandado por 'Wardaddy" é sujo, violento, impiedoso e amoral e não hesita em executar friamente um oponente já dominado ou humilhar e abusar de mulheres civis em evidente pânico. O único contraponto à bestialidade apresentada pelos soldados é o novato Norman que, recém enviado ao front, ainda não foi "tocado" pelos anjos da guerra e da morte. Assim, o filme preconiza que a guerra é estúpida, bestial e desumanizadora. Entretanto, dos filmes que eu me lembro com esta linha - a saber, "O Medo", sobre a Primeira Guerra; "Vá e Veja", sobre a Segunda; e "Apocalipse Now", sobre a Guerra do Vietnã - este aqui é o único que, apesar de difundir uma ideia negativa da guerra, deixa algum espaço para a "atitude heroica" (realmente não consegui definir se essa postura heroica foi criticada ou tolerada com reservas; pode até ter sido uma crítica, mas bem mais sutil que o restante da obra). Visualmente é um filme extremamente bem realizado - as imagens do front são grotescas, os cadáveres, os destroços, a lama preta, não há nada de romântico nas imagens (mas "O Medo" consegue dar uma ideia de front ainda pior). Não gostei de algumas cenas dos confrontos porque colocaram uns efeitos especiais em que os disparos pareciam arma laser de filme de ficção científica, com tons super vermelhos e brilhantes, ficou bem tosco, mas também foi o único porém, o restante todo foi muito bem feito. As interpretações também mantiveram a qualidade - Brad Pitt se sobressai com uma interpretação contida, bem adequada ao seu personagem, uma figura contraditória, que pode ser o monstro com o inimigo ou até mesmo com sua equipe e, no segundo seguinte, compreensivo e até mesmo acolhedor. Shia LaBeouf, surpreendentemente, não é o mais "escroto" da equipe (já que, usualmente, ele é o personagem mais asqueroso das obras), fazendo um soldado cristão (!!!!); Jon Bernthal pesou um pouco a mão em seu Grady, achei que ele ficou um pouco estereotipado demais como o "cara bruto"; Logan Lerman, por sua vez, faz o novato Norman com um certo excesso de ingenuidade, mas não chega a estragar o personagem. O filme é bom, gostei das ideias pregadas, mas achei o começo meio arrastado, me deu um pouco de sono, mas também pode ter sido só sono meu próprio rs. Não é excepcional, mas vale a visita.
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