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hikafigueiredo

"Filho Único", de Yasujiro Ozu, 1936

Filme do dia (238/2018) - "Filho Único", de Yasujiro Ozu, 1936 - Em um pequeno povoado do interior mora Tsune (Choko Iida), uma jovem viúva que trabalha arduamente para sustentar o único filho. Com o sonho de ver seu filho prosperar no futuro, Tsune sacrifica sua vida para enviá-lo para Tokyo para completar seus estudos.





Em seu primeiro filme sonoro, Ozu narra a triste história de Tsune e Ryosuke. Apesar da obra não discorrer sobre eventos trágicos em si mesmos - como guerras, doenças ou mortes -, o filme traz uma carga de desalento e melancolia quase insuportáveis, até mesmo porque expõe uma história tão natural e cotidiana, tão próxima de qualquer um de nós, que é impossível não se sentir afetado. Fazendo um resumo um pouco simplista, o filme discorre sobre as falácias da prosperidade e da meritocracia e, ainda, sobre maternidade, amor, sacrifício e projeção. Tsune coloca de lado toda e qualquer necessidade pessoal e se sacrifica em prol de um futuro melhor para o filho. A mulher projeta seus ideais de sucesso no filho, sucesso esse pautado em valores como prosperidade material e reconhecimento social. Após todo o sacrifício que passou, Tsune reencontra um filho adulto que não se enquadra na imagem que projetou - Ryosuke sustenta a si e a família com dificuldade e não alçou nenhuma posição social reconhecida - causando desalento a todos os envolvidos. Apesar de pessoalmente discordar do ideal de vida e sucesso retratados na obra - não acredito que felicidade e satisfação pessoal venham atrelados a questões materiais ou reconhecimento social e acho que essa valoração do que o outro pensa ou acha extremamente fútil e vazia - fiquei comovida com a decepção demonstrada pelos personagens quanto ao resultado de tanto esforço e dor. Também partiu meu coração a culpa carregada por Ryosuke por se achar insuficiente, por perceber a decepção da mãe, por acreditar que seu insucesso perante a sociedade decorreu de um esforço deficiente, aquela coisa "eu não me esforcei o suficiente" (cara, como eu odeio essa mentira chamada meritocracia, essa ideia tosca de que qualquer um alcança o sucesso bastando se esforçar bastante, sem levar em conta fatores como as desigualdades de condições, privilégios e história pessoal). No final das contas, os sentimentos que prevalecem no filme é a angústia e o desencanto, nada suficientemente explosivo que te faça chorar, mas que deixam um gosto amargo na boca e um peso no peito - é uma obra super existencialista, algo bergmaniana, explorando sentimentos profundos, sentimentos que vão muito além do óbvio e que exigem certa prospecção para alcançá-los. Destaque para as interpretações de Choko Iida, atriz fantástica, extremamente expressiva, como Tsune; Himori Shin'ichi como Ryosuke adulto; e Yoshiko Tsubouchi como a envergonhada e doce Sugiko. Como não poderia deixar de ter, há a participação de Chishu Ryu, um dos queridinhos do diretor. O filme é uma obra-prima, não deixem de ver (lembrando sempre que o ritmo é beeeeeem oriental...).

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