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hikafigueiredo

"Mãe e Filha", de Petrus Cariry, 2011

Filme do dia (10/18) - "Mãe e Filha", de Petrus Cariry, 2011 - Após anos distante, uma filha retorna para para a casa de sua mãe. Na bagagem, o corpo morto de seu filho recém-nascido, que prometera levar para sua mãe abençoar. O reencontro acenderá um antigo conflito entre as duas mulheres.





O filme, triste e poético como poucos, discorre sobre temas como permanência e pertencimento. Em uma cidade abandonada e em ruínas, em meio aos escombros das casas, a mãe sobrevive graças às suas memórias e à esperança de um improvável retorno de seu companheiro. Enraizada naquele local, petrificada naquela existência árida, sozinha com suas lembranças, expectativas e sonhos, a mãe é a imagem da permanência e da imutabilidade. A filha, por sua vez, rompe com aquela realidade ao partir para Fortaleza. Seu retorno com o filho morto é uma concessão à mãe, apenas um sinal de respeito. A mãe resiste em enterrar o neto falecido, a quem acolhe com amor e com quem conversa como se vivo estivesse. Enterrar a criança é enterrar seus sonhos e sua esperança, daí a resistência. A filha, por sua vez, sente a urgência do enterro do bebê, como para colocar um ponto final na questão e partir para uma nova fase, retornando para sua vida em Fortaleza. É o conflito entre a permanência e a mudança, entre o solidificado e a fluidez, entre o estabelecido e o que está por vir. É um filme melancólico, mas forte, denso, tenso, sensorial e metafórico, uma obra que conversa com as nossas entranhas. É, ainda, um filme contemplativo e silencioso, lento, onde o que se fala tem muito menos importância do que o que se sente e se observa. Tecnicamente, o filme tem uma fotografia belíssima - algumas cenas parecem verdadeiras pinturas - ainda que, por vezes, um pouco escura demais. O som direto tem uma ótima qualidade e abre espaço para silêncios significativos. As duas únicas personagens, a mãe e a filha, são interpretadas com segurança por Zezita Matos e Juliana Carvalho, respectivamente. Zezita Matos ("A História da Eternidade", "Baixio das Bestas", "O Céu de Suely" - só filmão) impressiona pela expressão carregada de dor e resignação. A obra é maravilhosa e, infelizmente, pouquíssimo divulgada. É um filme que deixa um nó na garganta, mas muito pungente. Amei. Quero ver mais coisas do diretor. Recomendadíssimo.

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