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hikafigueiredo

"Matango - A Ilha da Morte", de Ishiro Honda, 1963

Filme do dia (112/2022) - "Matango - A Ilha da Morte", de Ishiro Honda, 1963 - Após sobreviver a um naufrágio, um grupo de amigos vai parar em uma estranha ilha desabitada. Sem provisões, eles terão de sair em busca de comida e resistir à tentação de se alimentarem de estranhos cogumelos adulterados por radiação.





Como outras obras do diretor, o filme encontra-se na interface entre os gêneros ficção científica e terror, o que não o impede de trazer inúmeras temáticas mais "sérias" para discussão. Tendo como ponto de partida o naufrágio do iate de um jovem milionário acompanhado de amigos, os quais vão acabar em uma ilha desabitada, o filme fará inúmeras críticas à sociedade e aos próprios indivíduos. A primeira provocação está no recorte dos integrantes do grupo - jovens bem-nascidos, herdeiros ricos ou intelectuais que, para impressionar suas belas acompanhantes, saem em um cruzeiro no iate de um deles. É perceptível o cuidado na construção de cada personagem: um escritor sem talento que "se inspira" nos livros de terceiros, a demonstrar seu pouco caráter; um herdeiro rico, irresponsável, arrogante e mimado que acredita poder comprar qualquer coisa ou pessoa; o capitão do navio que foi financiado a vida inteira pelo milionário sob a desculpa de "serem amigos"; um professor idealista e ético; um marinheiro contratado, sem o "verniz" dos demais componentes do grupo; uma bela cantora cheia de si, de olho nas benesses que poderá alcançar estando no grupo; e uma tímida e deslocada secretária por quem o professor é apaixonado. A crítica aos jovens hedonistas é visível e aberta. Após o naufrágio e a chegada do grupo à ilha, a discussão toma novo rumo. Diante das necessidades impostas, os sobreviventes revelam-se - com exceção ao professor e à secretária, os jovens despem-se de qualquer civilidade e passam a agir sem ética ou compaixão, num nítido "farinha pouca, meu pirão primeiro". Os antes refinados e simpáticos amigos tornam-se egoístas e mesquinhos e não hesitam em trair os companheiros, mentir em prol de si próprios, fazer conchavos com aqueles que acreditam terem maiores chances de sobrevivência, furtar, roubar e até mesmo matar. Lembrei novamente da obra "O Senhor das Moscas" (1990), de temática semelhante. Outro recorte perceptível é o de gênero: as duas mulheres do grupo tornam-se alvo fácil dos homens rebaixados a selvagens, que passam a disputá-las como prêmio e as veem como meros objetos (novamente, a exceção é o professor). Por fim, como praticamente todos os filmes japoneses de ficção ou terror da época, temos a questão atômica embutida, numa clara alusão aos efeitos deletérios da radiação. Esmiuçando assim os assuntos tratados, pode parecer que o filme é extremamente sério. Nada disso, ele é bem divertido e tem um pé firme nos filmes "B". A narrativa é circular, tratando-se de um grande flashback do ponto de vista de um sobrevivente que retorna para Tóquio. O ritmo é bem marcado e crescente. A atmosfera é de tensão e aumenta a cada segundo. No que se refere às questões técnicas, o destaque fica por conta dos efeitos especiais que, se não são incríveis, estão longe de serem dos piores - as cenas do iate na tempestade até que estão bem boas. O elenco é composto por Akira Kubo como o professor; Yoshio Tsuchyia como o herdeiro rico e dono do iate; Hiroshi Koizumi como o capitão; Kenji Sahara como o marinheiro; Hiroshi Tachikawa como o escritor; Kumi Mizuno como a cantora Mami; e Miki Yashiro como a secretária. As interpretações são um pouco exageradas, mas não chegam a atrapalhar a obra. Dos filmes do diretor, esse foi o que eu gostei mais. Divertido, recomendo, alertando que tem um quê de "trash".

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