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hikafigueiredo

"Milagre em Milão", de Vittorio De Sica, 1951

Filme do dia (231/2020) - "Milagre em Milão", de Vittorio De Sica, 1951 - Após anos em um orfanato, para onde foi levado depois da morte de sua mãe adotiva, Totó (Francesco Golisano) chega a maioridade e ganha as ruas. Sem qualquer perspectiva, o rapaz une-se a um grupo de miseráveis e passa a viver em um barraco em um terreno ocupado. A descoberta de petróleo nesse terreno fará com que seu proprietário volte a se interessar por ele.





Que filme... bizarro, eu diria. A obra mistura elementos do neorrealismo italiano, ainda em alta na época, com a mas pura fantasia, algo que se aproxima do realismo fantástico. A temática social segue a linha do neorrealismo - o filme retrata a população mais miserável e sua luta para ter, ao menos, um lugar para morar, ainda que seja um barraco feito de folhas de zinco e papelão. A estética, da mesma forma, também encontra inspiração no neorrealismo - fotografia P&B, uso de locações reais, presença da população local como figuração. No entanto, diferente das obras neorrealistas mais famosas, onde impera uma atmosfera pesada, sombria, uma total descrença na sociedade, um clima de desilusão, aqui temos uma atmosfera positiva, uma alegria no viver, em parte emanada da figura do protagonista, um otimista incorrigível. Além disso, da metade para o fim, o filme ganha contornos fantásticos, com acontecimentos mágicos e com um desfecho para lá de inusitado. Entretanto, pela minha leitura, sob o manto de otimismo, há uma duríssima crítica social e todos aqueles elementos fantasiosos nada mais são do que uma alegoria sobre a imutável e cruel situação social das camadas mais miseráveis da sociedade. Pela minha interpretação, o diretor quis dizer que, para sair daquela situação de penúria e enfrentar o poderio econômico, só mesmo através de um milagre. Por esta leitura, o riso surgido de situações estranhas e ligeiramente cômicas rapidamente se esvai, sobrando um gosto amargo após tal desconstrução. A narrativa flui bem, com um ritmo alegre e leve aceleração ao final. Destaque para a fotografia P&B levemente flua, que impõe um ar onírico a algumas cenas. Ignore os efeitos especiais toscos, lembrando que eles não eram tão comuns na época (se bem que já vi efeitos especiais bem melhores em filmes da das décadas de 10 e 20...). Francesco Golisano interpreta um Totó empático, ingênuo e alegre, sempre preocupado com o próximo, mas, acima de tudo, um otimista, quase uma Pollyana de calças. Eu assumo que tanto otimismo chegou a me irritar um pouco, mas eu sou rabugenta mesmo, então não sei se outros espectadores teriam essa mesma impressão. Destaque para a cena em que o terreno é negociado entres os dois ricaços e para a cena da tentativa de reintegração de posse, ambas ótimas. Eu gostei do filme, muito embora também o tenha achado bem esquisito. De qualquer forma, é um Vittorio De Sica, diretor de quem gosto muito, então, recomendo com prazer.

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