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hikafigueiredo

"Minha Terra, África", de Claire Denis, 2008

Filme do dia (120/2015) - "Minha Terra, África", de Claire Denis, 2008 - Num país africano hipotético e sem nome, vive Maria (Isabelle Huppert). Francesa e branca, Maria sente-se incorporada àquela terra e à fazenda onde planta café e das quais se nega a se afastar, mesmo estando, o país, em plena guerra civil. Ignorando o perigo - para si e para sua família - a personagem só consegue pensar na colheita que perderá caso abandone aquelas terras. Obcecada, parte em busca de trabalhadores que aceitem trabalhar, mesmo com a aproximação das tropas rebeldes.





O filme, muito bom, é uma evidente crítica à exploração colonialista europeia. Primeiro, temos o governo francês abandonando o local quando da explosão da guerra civil, deixando para trás a miséria e devastação geradas pela colonização. Depois, temos a personagem Maria - se por um lado Maria é forte e corajosa, por outro é arrogante e sente-se tão senhora daquelas terras que não aceita perder por nada o protagonismo daquela realidade, ainda que para salvar sua própria pele. Maria, em sua arrogância europeia, não percebe o desmoronamento social ao seu redor, a aproximação do perigo, a crescente tensão e o verdadeiro ódio que habita e cresce nos nativos. Apesar de não abrir mão do protagonismo, Maria não percebe que há muito deixou de ter qualquer controle sobre o que passa em sua casa e fazenda, que, como todo o país, encontra-se à mercê da guerra entre diferentes facções rebeldes. Interessante, ainda, o retrato, mesmo que sem grande profundidade, desta guerra civil onde milícias lutam contra grupos rebeldes formados, basicamente, por meninos-soldados sem qualquer objetivo e levados à violência extrema. Triste saber que isso é uma realidade em muitos países africanos. Apesar de achar o filme muito bom, admito que o desfecho me decepcionou um pouco - nem sei bem o que eu esperava, mas sei que era um desfecho diferente. Quanto às questões técnicas, o filme conta com uma fotografia caprichada, bastante puxada para os tons quentes, bem adequada para a paisagem de savana do local. A história subverte o tempo cronológico e a montagem contribui para as idas e vindas dos diferentes momentos. Isabelle Huppert, atriz magnífica, transmite bem a coragem e arrogância da personagem, além da estupefação de Maria quando finalmente começa a entender o tamanho "do problema". Apesar da tensão crescente, o filme tem um ritmo suave. Gostei e aconselho, mas mais pelo conteúdo sócio-político do que pelas qualidades cinematográfica.

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