Filme do dia (03/2020) - "Narciso Negro", de Michael Powell e Emeric Pressburger, 1947 - Um grupo de freiras, liderado pela Irmã Clodagh (Debora Kerr), é enviado para estabelecer um convento aos pés do Himalaia. Os nativos são pouco receptivos, motivo pelo qual as Irmãs pedem ajuda a um inglês radicado no local, Sr. Dean (David Farrar). No entanto, a proximidade com este homem trará terríveis consequências para as religiosas.
Ganhador dos Oscares de Melhor Fotografia e Direção de Arte, o filme tem uma estética impecável e um roteiro bastante razoável para a época. É interessante como a história se desenvolve com uma nada sutil tensão sexual entre as freiras e o personagem Sr. Dean, apesar de manter-se dentro do decoro esperado naquele tempo. Admito que a representação dos nativos me incomodou, pois foram retratados como verdadeiros selvagens - rudes e ignorantes - mas entendo que era a visão ocidental em 1947, não posso simplesmente desconsiderar o momento histórico da obra, então, só resta, ao espectador do século 21, respirar fundo e abstrair. Por outro lado, sem querer dar spoiler, mas revelando algo do roteiro, curti o fato do povo nativo não se dobrar ao colonizador. A obra consegue fazer um certo "clima" que mistura a já mencionada tensão sexual com uma aura meio mística e esse exotismo deve ter feito sucesso no público de então (e talvez no atual; eu achei bem diferente e curti). A fotografia e direção de arte, super caprichadas, também colaboram com essa atmosfera meio mágica. No elenco, Debora Kerr consegue transmitir a "contenção" da freira que luta para manter-se fiel a seus princípios e não se desviar de seus preceitos religiosos; David Farrar, um ator bem bonitão e sexy, convence como objeto de desejo das freiras e seu jeito meio debochado encaixa direitinho no personagem; Kathleen Byron está ótima como a problemática Irmã Ruth; Jean Simmons não convence muito como a nativa Kanchi, mas seus olhos verdes são realmente impressionantes. É um filme um tanto quanto datado, mas isso não o impede de ser apreciado pelo público atual, pois tem virtudes inegáveis. Eu gostei, mas recomendo para quem curte filmes mais antigos.
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