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hikafigueiredo

"Noite e Névoa no Japão", de Nagisa Oshima, 1960

Filme do dia (92/2022) - "Noite e Névoa no Japão", de Nagisa Oshima, 1960 - Durante um protesto de estudantes, Nozawa (Fumio Watanabe) e Reiko (Miyuki Kuwano) conhecem-se e se sentem mutuamente atraídos. Dez anos depois, durante a festa de casamento do casal, os companheiros de luta política passam a revolver o passado.





Foi com legítima surpresa que acompanhei esta obra de Nagisa Oshima, pois foi o primeiro filme japonês com verdadeiro teor político a que assisti. A história discorre sobre um grupo de estudantes profundamente envolvidos com ativismo político de esquerda durante os anos 50 e 60 no Japão. Ainda que todos se identificassem com a mesma orientação política e ideológica, o grupo era formado por indivíduos das mais diversas linhas de pensamento - e que nem sempre conviviam pacificamente. Pois é na festa de casamento de Nozawa e Reiko que todos os antigos colegas e companheiros de luta política se reencontram e antigas rixas, discussões e disputas vêm à tona. Por existirem muitos personagens, confesso que, por vezes, fiquei um pouco perdida acerca de quem se falava, inclusive pelo fato de alguns nomes serem parecidos, mas, em linhas gerais, consegui acompanhar a narrativa que, lá pelas tantas, se torna uma enorme lavação de roupa suja. Também senti falta de um maior conhecimento acerca da história do Japão, pois há várias menções a protestos contra leis e decisões que eu somente intui do que se tratavam. Pela própria natureza da obra, é evidente que temos um falatório sem fim ao longo da narrativa, muito mais apoiada no discurso do que na ação. Para não cair na monotonia, o diretor foi hábil em pontuar diferentes momentos , indo e voltando no tempo e considerando diferentes pontos de vista, criando quase um quebra-cabeça de diversas visões acerca de temas conexos. Também achei bem criativos alguns recortes feito por Oshima só com o uso de iluminação, ressaltando personagens com luz, enquanto os demais ficam em plena escuridão. Ressalto, ainda, a câmera nervosa que, no auge da discussão, passa de um personagem a outro na mesma velocidade em que uns replicam aos outros. O filme consegue criar uma discussão política profunda e, ao mesmo tempo, ousar na forma. O elenco mostrou-se bastante regular, muito embora não tenha reconhecido nenhum dos intérpretes (não me lembro de nenhum deles de obras de outros diretores). O filme tornou-se bastante controverso, justamente por seu teor político, tema raramente explorado pelo cinema japonês. A obra poderia ter se tornado incrivelmente árida e de dificílima digestão, mas a direção acertada de Nagisa Oshima conseguiu evitar que se tornasse enfadonha. Eu curti e recomendo para quem tem especial apreço a filmes políticos.

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