Filme do dia (138/2016) - "O Processo", de Orson Welles, 1962 - Certa manhã, o quarto de Joseph K. (Anthony Perkins) é invadido por investigadores. Sem ter ideia do motivo, ele é acusado e processado. Buscando respostas, Joseph K. mergulha no complexo mundo jurídico.
Evidentemente baseado no livro de Franz Kafka, o filme é uma discussão instigante sobre a burocracia, a lei e a justiça, e como as três são morosas, perversas, soberbas e só servem a si mesmas. Algumas cenas são de precisão cirúrgica em demonstrar tais ideias - como a que Joseph K. rola com Leni (Romy Schneider) por sobre pilhas de processos e mais processos que entopem um dos cômodos da casa do advogado (Orson Welles) ou, ainda, como na cena que Joseph K. se perde no tribunal que mais parece um labirinto. Logo no início do filme, uma narrativa expõe que a lógica da história é a de um sonho, a de um pesadelo. Eu diria que mais que a lógica, as sensações que são despertadas são as de um tremendo pesadelo - a obra é angustiante e extremamente claustrofóbica, sensação que aumenta à medida que Joseph K. se aprofunda nas águas turvas da justiça. O fato de jamais sabermos por qual crime o personagem está sendo acusado é apenas uma pequena ponta de iceberg, porque tudo é vago, todos os personagens são evasivos, nada recebe uma resposta direta. O filme é ótimo, mas, por discutir a mesma questão a história inteira, eu o achei um pouco longo e, bem no final, já estava lutando contra o sono (se bem que, considerando a hora que acordo diariamente, talvez isso não possa ser creditado só ao filme). O filme conta com uma fotografia P&B bastante contrastada, com predominância do preto, o que ajuda a construir o efeito de claustrofobia. Os ângulos de posições de câmera, como de hábito do diretor, são diferentes e sofisticados, gerando uma certa estranheza no espectador. Além do uso de posições de câmera diferenciadas, também os movimentos de câmera e a cenografia são utilizados para causar sensações de desconforto no público - artifícios como tetos rebaixados, mesas elevadas ou portas desproporcionais em relação aos personagens são usados nesse sentido, construindo, ainda, significados quanto a importância ou não de cargos ou papeis desempenhados pelos personagens. Quanto às interpretações, destaque para um ótimo e expressivo Anthony Perkins, injustamente lembrado apenas por seu Norman Bates, de "Psicose" - ele está realmente muito bem no papel de Joseph K. Ainda temos no elenco o próprio Orson Welles e a queridíssima Jeanne Moreau (eu a adoro!). O filme é bem interessante e complexo (só um pouco longo) - recomendado!!!!
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