Filme do dia (34/2021) - "O Sabor do Chá Verde Sobre o Arroz", de Yasujiro Ozu, 1952 - Taeko (Michiyo Kogure) vive uma relação infeliz com Mokichi (Shin Saburi), fruto de um casamento arranjado por seus pais. Setsuko (Keiko Tsushima), sobrinha de Taeko, nega-se a se submeter a um casamento arranjado, o que despertará discussões em meio à família, com forte repercussão no casamento de sua tia.
Nessa verdadeira obra-prima de Ozu, o foco encontra-se nas relações a dois que se formam através dos tradicionais casamentos arranjados da cultura japonesa. A personagem Taeko, infeliz em seu casamento, ressente-se por sua sobrinha não querer seguir as tradições. Simultaneamente, Taeko cria, constantemente, situações de conflito com seu marido Mokichi, de forma a minar qualquer possibilidade de entendimento e paz entre o casal. Essa obra fez com que eu percebesse outra característica das obras do diretor que, até agora, não havia me dado conta - Ozu, além de fazer um cinema do cotidiano, também faz um cinema da harmonia. Explico-me: ainda que existam, nas histórias do diretor, conflitos, a tendência da narrativa é sempre no sentido de que estes conflitos sejam resolvidos da maneira mais harmoniosa possível. Os filmes de Ozu não levam, nunca, a uma catarse, a explosões de emoções; ao contrário, os conflitos sempre conduzem a soluções plácidas, calmas, por vezes passivas. Nesta obra, assumo que, lá pelas tantas, queria entrar na história para dar na cara da personagem Taeko - Ozu, frustrou minha sanha catártica, mostrando-me um caminho muitíssimo mais suave para a solução dos conflitos impostos pela personagem (sem spoilers). Acredito que, até o momento, este tenha sido o filme de Ozu que me trouxe emoções mais afloradas - normalmente seus filmes me trazem uma energia zen e não ganas de agredir algum personagem... rs. Formalmente, estão presentes todos os elementos típicos do diretor, já mencionados em outras postagens. No elenco, Shin Saburi desperta a simpatia do espectador como o pacato Mokichi, um homem que busca sempre o entendimento, a concordância e a paz, mas é Michiyo Kogure que reina, soberana, no filme, como a insuportável Taeko, uma mulher amargurada, insensível, mimada, egoísta e arrogante - e a atriz interpreta o papel tão maravilhosamente bem que eu quase tive raiva dela, profissional!!!!! rs É evidente que Chishu Ryu também está no elenco, senão não seria filme de Ozu! rs Keiko Tsushima, representando a juventude, modernidade e ocidentalização, traz força no papel de Setsuko. Destaque absoluto para a cena do diálogo "definitivo" entre os personagem Taeko e Mokichi - fui totalmente arrebatada pela cena!!! O filme é belíssimo, vale cada instante de duração e quando terminou fiquei com gosto de "quero mais"!!! Recomendo fortemente!!!
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