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  • hikafigueiredo

“Oitava Série”, de Bo Burnham, 2018

Filme do dia (48/2023) – “Oitava Série”, de Bo Burnham, 2018 – Kayla (Elsie Fisher) é uma garota de 14 anos prestes a terminar o ensino fundamental e entrar para o ensino médio. Na última semana na escola, Kayla vivenciará momentos angustiantes e tentará lidar, da melhor forma possível, com a sua adolescência.





Este drama delicado discorre sobre o sentimento de inadequação e a busca por aceitação entre seus iguais, tão comum na adolescência, mas que pode se estender até bem mais se considerarmos as pessoas tímidas e retraídas. A protagonista é uma garota de 14 anos sem qualidades excepcionais ou que a façam se destacar da multidão – enfim, uma menina normal - passando pelo conturbado período da adolescência. Se esta fase da vida sempre foi um tanto caótica – não bastassem os hormônios em ebulição, fazendo com que os adolescentes reajam a tudo de maneira desproporcional, ainda existe a pressão dos pais, da escola e dos próprios amigos e colegas -, nos dias atuais, onde há a superexposição das redes sociais, a velocidade da circulação de qualquer informação e a busca desenfreada por visibilidade e “likes”, parece que a adolescência ficou ainda mais insalubre. A narrativa acompanha uma semana da angustiante vida da personagem, período em que acontecem coisas que, para um adulto, seriam meros aborrecimentos ou dissabores, mas que, para uma adolescente, tomam proporções avassaladoras. Assim, Kayla precisa lidar com sua timidez, com sua inexperiência de vida, sua inocência, sua solidão e sua carência frente a acontecimentos banais, mas extremamente dolorosos e conflitantes para ela. A grande virtude da obra é a forma como expõe todas essas questões tão adolescentes com sensibilidade e empatia – ainda que, em alguns momentos, Kayla seja até mesmo chata ou irritante, o olhar do filme para ela é sempre terno e acolhedor, como um abraço reconfortante que dissesse que tudo vai isso vai passar. Claro que, para um espectador adulto curtir o filme, ele terá de se despir um pouco de sua “adultice”, conectando-se um pouco com seu passado e o adolescente que ele foi então, caso contrário, todas as agruras do filme vão parecer mero capricho juvenil – o que seria, no mínimo, uma visão nada empática e compreensiva. A narrativa é linear, em ritmo moderado. A atmosfera do filme é de leve desconforto, como se o público vivenciasse a timidez e vergonha da protagonista, mas, o desfecho, por sua vez, dá uma reviravolta nesta atmosfera, transformando-a em esperança e redenção, bem adequada ao espírito controverso dos adolescentes. O filme também tem o mérito de retratar, com bastante especificidade, essa nova “leva” de adolescentes, marcados, principalmente, pela internet e pelas redes sociais – então temos “lives”, temos “selfies”, temos curtidas em postagens e todo o arsenal de coisas que vem a reboque disto tudo. Curti bastante a forma como o filme assume, o tempo todo, o ponto de vista da protagonista – estamos vendo a adolescência e suas dores “de dentro” e isso fica mais evidente com os muitos momentos em que a referência sonora ou visual é a da própria Kayla (por exemplo, ela escutando música com fones na mesa de jantar). Mais um mérito do filme é o elenco... na verdade, a escolha da ótima Elsie Fisher como protagonista: ela assume tão bem a adolescente inadequada e solitária, é tão natural nela!!! E a forma como fala, como age, como se mexe, tudo transpira a naturalidade daquele momento de vida, o desacerto, o descompasso. Ela é ótima, é fato. No elenco, ainda, Josh Hamilton como o desengonçado pai de Kayla, Mark; Emily Robinson como Olívia; e Luke Prael como Aiden. A obra talvez seja um dos melhores filmes acerca do desconforto adolescente, sem dourar a pílula e sem um final sombrio ou excessivamente cor-de-rosa. Gostei bastante e recomendo.

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