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hikafigueiredo

"Paraíso", de Mariana Chenillo, 2013

Filme do dia (402/2020) - "Paraíso", de Mariana Chenillo, 2013. Carmen (Daniela Rincón) e Alfredo (Andrés Almeida) formam um apaixonado casal desde a adolescência. Moradores de uma cidade satélite da Cidade do México, eles subitamente têm de se mudar para a capital, quando Alfredo ganha um cargo melhor dentro da empresa onde trabalha. Logo que chegam à nova cidade, Carmen descobre que seu tipo físico - um tanto quanto acima do peso -, bem como o de seu marido, não se enquadram nos padrões estéticos vigentes. Juntos, entram em um grupo de ajuda para emagrecimento, enquanto o casamento entra em crise.





Essa obra mexicana trata, antes de tudo, de gordofobia - e essa gordofobia extrapola, inclusive, os limites do filme, pois, vendido como comédia, há pouco para se rir na história (mas, claro, o sofrimento de quem está acima do peso e, por isso, é julgado pela sociedade, deve ser super engraçado). A obra vai discorrer, ainda, sobre padrões estéticos, autoimagem, respeito por si próprio, crueldade e sobre o costume que as pessoas têm de se importar com a opinião alheia. O casal Carmen e Alfredo se ama, e, como são - com muito quilos a mais, que seja - ambos são felizes. Por se incomodar com opiniões maldosas de pessoas que sequer os conheciam, Carmen entra em um grupo do tipo "vigilantes do peso", mas rapidamente percebe que aquilo não é vida para ela. Alfredo, no entanto, adapta-se à dieta e até começa a curtir sua nova imagem. No entanto, à medida em que Alfredo emagrece e tenta convencer Carmen a segui-lo, mais distantes eles ficam um do outro e mais infeliz Carmen se sente. Adoraria saber onde quem classificou o filme viu comédia nessa história, apoiada em profundo sofrimento, sentimento de inadequação e rejeição e crise no casamento. A narrativa é linear, o ritmo é bem marcado e a atmosfera começa leve, mas, pouco a pouco, passa a ser melancólica e angustiada. O roteiro, bastante bem construído, mostra o quanto as pessoas gordas são pressionadas a ser como os outros acham que elas deveriam ser e como essa pressão cria uma série de entraves psicológicos em quem está acima do peso. Eu fiquei bastante tocada pela personagem Carmen, muito bem interpretada pela iniciante Daniela Rincón, linda com seus quilos a mais, mas tão magoada com as questões envolvendo seu peso. Como Daniela, Andrés Almeida também está ótimo no papel, muito convincente como o homem apaixonado pela esposa, mas com pouco tato para entender o quanto a gordofobia atinge mais as mulheres. A obra é legal e trata deste preconceito tão pouco falado em filmes, como se a sociedade já houvesse admitido que preconceito contra pessoas gordas não merece espaço nas discussões e pode correr solto que tudo okay. Eu gostei, o desfecho é bonitinho (ainda que previsível) e recomendo.

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